Houve tempos em que eu falava com a avó Dolores. E a avó contava histórias tão lindas!...
A avó Dolores nascera numa aldeia; nunca me disse o seu nome, apenas se referia a ela como a Aldeia dos Girassóis. E falava do tempo em que participava nas procissões, das festas, dos conhecidos... As histórias eram sempre as mesmas mas, cada dia, pareciam diferentes, sempre novas, talvez devido à forma e entoação com que as contava.
A avó Dolores costumava dizer que o seu nome, Dolores, significa "Dor" e que a sua mãe lho havia posto por ter sofrido muito. Quando eu perguntava qual a razão do sofrimento da bisavõ, a avó limitava-se a olhar pela janela, com olhar ausente. De quando em quando pousava, no parapeito da janela, um rouxinol. A minha avó sorria para o rouxinol e eu perguntava de mim para mim o que é que o rouxinol tinha a ver com a avó Dolores.
Não demorei muito a perceber a resposta que a avó Dolores se recusava em dar. Soube-a pela minha mãe. Pelos vistos, a mãe da avó Dolores tinha morrido de parto. Perdera muito sangue e, vendo-a desfalecer, alguém perguntara o que é que ela sentia. E ela respondeu "Dor". A minha bisavó não dera nenhuma indicação ou proposta de nome para a criança e, vendo que esta morria e também devido à exclamação da mãe, os presentes optaram por dar à bebé o nome de "Dor". E assim a minha avó passou a chamar-se Dolores. E a minha avó nasceu em Março, quando chegam os rouxinóis.
A avó Dolores tinha sempre muitas saudades da sua terra. Senão, por que razão contava as suas memórias? É tão triste esquecermos aquilo que mais gostamos!...
Os tempos foram passando...
Aproximava-se o Natal. Em casa, todos estávamos felizes. Mas a avó Dolores estava triste... Tinha saudades da sua terra... Saíra de lá em menina e... nunca mais lá voltara... E como desejava voltar, pelo menos, uma última vez!...
A avó Dolores já tinha alguma idade. Estava cada vez mais velha. Mas a velhice parecia nunca haver passado por ela, sempre tão alegre mas, ao mesmo tempo, tão triste!...
A minha mãe sempre soubera que a avó Dolores queria voltar para a Aldeia dos Girassóis... Mas nunca a levara, pois não tinha conhecimento de alguma aldeia dos girassóis, ou seja, com esse nome... Mas a avó dizia - "Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...".
Pobre avó Dolores! Como eu gostava de ter podido levá-la à Aldeia dos Girassóis!...
Era chegado o dia 23 de Dezembro. Tanto eu como a minha mãe estávamos atarefadas com a ceia de Natal... Mas como iria eu dizer à Avó Dolores que ainda não ia ser daquela vez que ia passar o Natal à Aldeia dos Girassóis?
Não tive coragem. Nem passei pela porta...
E chega a noite. Eu ia para me deitar quando me lembrei que a avó dolores não tinha saído do quarto toda a tarde.
Entrei no quarto e chamei - "Avó Dolores!".
A avó parecia continuar a olhar a neve. Aproximei-me e coloquei-lhe a mão no ombro.
- Avó Dolores...
Não demorei muito a perceber ue a avó Dolores nunca mais me ia contar histórias...
No dia seguinte, 24 de Dezembro, o corpo da avó Dolores foi levado para a Aldeia dos Girassóis. Eu estava triste, pois nunca mais ia ouvir as suas histórias...
Mas, deixá-lo! O maior sonho da avó Dolores era voltar para a sua terra.
"Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...". E foi.
Alguns dias mais tarde foi a minha vez de visitar a Aldeia dos Girassóis. A avó tinha razão! A aldeia justifica mesmo o seu nome!
Às vezes penso como poderia ter deixado a avó se lhe tivesse dito, no dia 23 de Dezembro, que não ia voltar à sua terra. Mas ainda bem que voltou!
Fui ver a nova morada da avó Dolores: tinha vista para campos cheios de flores!...
Por quantas flores eu passei no regresso a casa!...
Já se passou muito tempo...
Agora encontro-me eu, vencida pela idade, no dia 23 de Dezembro, na velha cadeira de baloiço da avó Dolores.
Estava a acabar o bordado que a havó havia deixado incompleto. Ficou tão bonito!... Já viste, avó? Um trabalho feito pelas duas, não estás orgulhosa?
Já é tarde. Passa das dez da noite: que dirias, se aqui estivesses? Estou tão cansada! Hoje vou dormir na cadeirinha de baloiço...
...Boa noite, avó Dolores!... Deixo-te na Aldeia dos Girassóis...
A avó Dolores nascera numa aldeia; nunca me disse o seu nome, apenas se referia a ela como a Aldeia dos Girassóis. E falava do tempo em que participava nas procissões, das festas, dos conhecidos... As histórias eram sempre as mesmas mas, cada dia, pareciam diferentes, sempre novas, talvez devido à forma e entoação com que as contava.
A avó Dolores costumava dizer que o seu nome, Dolores, significa "Dor" e que a sua mãe lho havia posto por ter sofrido muito. Quando eu perguntava qual a razão do sofrimento da bisavõ, a avó limitava-se a olhar pela janela, com olhar ausente. De quando em quando pousava, no parapeito da janela, um rouxinol. A minha avó sorria para o rouxinol e eu perguntava de mim para mim o que é que o rouxinol tinha a ver com a avó Dolores.
Não demorei muito a perceber a resposta que a avó Dolores se recusava em dar. Soube-a pela minha mãe. Pelos vistos, a mãe da avó Dolores tinha morrido de parto. Perdera muito sangue e, vendo-a desfalecer, alguém perguntara o que é que ela sentia. E ela respondeu "Dor". A minha bisavó não dera nenhuma indicação ou proposta de nome para a criança e, vendo que esta morria e também devido à exclamação da mãe, os presentes optaram por dar à bebé o nome de "Dor". E assim a minha avó passou a chamar-se Dolores. E a minha avó nasceu em Março, quando chegam os rouxinóis.
A avó Dolores tinha sempre muitas saudades da sua terra. Senão, por que razão contava as suas memórias? É tão triste esquecermos aquilo que mais gostamos!...
Os tempos foram passando...
Aproximava-se o Natal. Em casa, todos estávamos felizes. Mas a avó Dolores estava triste... Tinha saudades da sua terra... Saíra de lá em menina e... nunca mais lá voltara... E como desejava voltar, pelo menos, uma última vez!...
A avó Dolores já tinha alguma idade. Estava cada vez mais velha. Mas a velhice parecia nunca haver passado por ela, sempre tão alegre mas, ao mesmo tempo, tão triste!...
A minha mãe sempre soubera que a avó Dolores queria voltar para a Aldeia dos Girassóis... Mas nunca a levara, pois não tinha conhecimento de alguma aldeia dos girassóis, ou seja, com esse nome... Mas a avó dizia - "Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...".
Pobre avó Dolores! Como eu gostava de ter podido levá-la à Aldeia dos Girassóis!...
Era chegado o dia 23 de Dezembro. Tanto eu como a minha mãe estávamos atarefadas com a ceia de Natal... Mas como iria eu dizer à Avó Dolores que ainda não ia ser daquela vez que ia passar o Natal à Aldeia dos Girassóis?
Não tive coragem. Nem passei pela porta...
E chega a noite. Eu ia para me deitar quando me lembrei que a avó dolores não tinha saído do quarto toda a tarde.
Entrei no quarto e chamei - "Avó Dolores!".
A avó parecia continuar a olhar a neve. Aproximei-me e coloquei-lhe a mão no ombro.
- Avó Dolores...
Não demorei muito a perceber ue a avó Dolores nunca mais me ia contar histórias...
No dia seguinte, 24 de Dezembro, o corpo da avó Dolores foi levado para a Aldeia dos Girassóis. Eu estava triste, pois nunca mais ia ouvir as suas histórias...
Mas, deixá-lo! O maior sonho da avó Dolores era voltar para a sua terra.
"Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...". E foi.
Alguns dias mais tarde foi a minha vez de visitar a Aldeia dos Girassóis. A avó tinha razão! A aldeia justifica mesmo o seu nome!
Às vezes penso como poderia ter deixado a avó se lhe tivesse dito, no dia 23 de Dezembro, que não ia voltar à sua terra. Mas ainda bem que voltou!
Fui ver a nova morada da avó Dolores: tinha vista para campos cheios de flores!...
Por quantas flores eu passei no regresso a casa!...
Já se passou muito tempo...
Agora encontro-me eu, vencida pela idade, no dia 23 de Dezembro, na velha cadeira de baloiço da avó Dolores.
Estava a acabar o bordado que a havó havia deixado incompleto. Ficou tão bonito!... Já viste, avó? Um trabalho feito pelas duas, não estás orgulhosa?
Já é tarde. Passa das dez da noite: que dirias, se aqui estivesses? Estou tão cansada! Hoje vou dormir na cadeirinha de baloiço...
...Boa noite, avó Dolores!... Deixo-te na Aldeia dos Girassóis...
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