Quando acordou viu que se encontrava na Estrela Polar. Ao longe, a Terra, um minúsculo pontinho igual a tantos outros pontinhos pertencentes a algo que se chama Universo e a que vulgarmente chamamos estrelas.
De repente, a estrela começou a girar sobre si própria. Girava, girava, cada vez mais depressa. E lançou-se no vácuo.
E a menina viu todas as galáxias e todas as estrelas. Depois, a estrela deu meia-volta e voltou para o seu lugar no céu nocturno, na cauda da Ursa Menor. E a estrela contou a história das constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor. Era a história de uma mãe que estava a morrer de frio com o filho pequenino no colo. Quando ambos morreram, entraram ambos no céu sob a forma de constelações: a mãe como Ursa Maior e o filho como Ursa Menor. A menina achou a história fascinante. E, quanto mais a estrela contava, mais fascinada a menina ficava.
Mais tarde, a menina pediu à estrela:
- Mostra-me o Sistema Solar...
E a estrela mostrou todos os planetas do Sistema Solar à menina, os já descobertos e os que estavam por descobrir. Depois a menina pediu:
- Estrela, estrelinha, agora leva-me à Terra. Quero ver a minha rua.
E a estrela rumou em direcção à Terra. Circundou-a várias vezes até que penetrou na rua da menina. A menina abeirou-se de uma janela: a mesa estava posta com copos de cristal, talheres de prata e um enorme perú sobre a mesa estava mais assado do que a menina alguma vez vira. Ao pé da lareira, o presépio.
E a menina viu como seria o Natal do sapateiro que morava no fim da rua, da costureira que morava ao dobrar da esquina, do corregedor que morava no terceiro andar e da empregada de limpeza que tinha truta, arroz e frutos secos para o jantar.
Depois, a Estrela Polar saiu da Terra e partiu em direcção ao Sol...
... A estrela deixava atrás de si um rasto de fogo e luz. Então, a menina abriu os braços.
- Sim, vamos, Estrelinha! Em direcção ao Sol!...
E depois tornou:
- Quero ficar contigo para sempre!...
Mas, de súbito, estacou. E murmurou:
- Mas... e o meu Natal? Estrela, estrelinha, leva-me para casa...
Então, a estrela deu meia-volta e voltou a rumar em direcção à Terra. Voltou a penetrar na mesma rua, abeirou-se da janela e depositou, suavemente para não acordar, a menina na cama. Depois, tomou caminho em direcção ao Universo...
Na manhã seguinte a menina esteve calada e pensativa. Os pais perguntavam-lhe se estava doente. Mas a menina abanava a cabeça, dizendo que não.
Finalmente chegou a noite, a noite de Natal. E a menina, a meio da festa, confidenciou à mãe:
- Ontem à noite estive na Estrela Polar.
- Na Estrela Polar?
- Sim.
- Como foi isso?
- Fácil! Das costas saíram-me duas asas de prata...
Depois, a menina afastou-se para ir ter com o gato de olhos de quarto minguante. A minha filha sonha, sonha... pensou a mãe. Não pretendo desacreditá-la.
Então a mãe dirigiu-se para a varanda.
Quando olhei ela já lá não estava. Então, também fui para a varanda.
Olhei para a rua coberta de neve. Nem sinal dela. As árvores erguiam no céu os recortes dos seus troncos nus. Ao longe a Estrela Polar.
Primeiro foi uma aragem fresca. Depois, começou a nevar.
A neve caía sem ruído no manto branco que cobria o jardim.
De súbito, apareceu a mãe. Fora procurar o gato que se tinha perdido.
Observámos a neve durante um bocado.
Depois saí da varanda para me dirigir ao terceiro andar, à sala de baile, onde todos já se encontravam. O segundo andar já estava deserto.
Foi tudo muito rápido. Primeiro, um ruído. Depois uma luz. Então, olhei para a varanda.
A mãe já lá não estava. Mas podia jurar que, naquele momento, das costas tinham-lhe saído duas asas de prata e que tinha tomado a direcção do Universo, rumo à Estrela Polar...
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