quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A actualidade das peças vicentinas: um teatro de ontem que se manifesta amanhã

É um pouco errado quando se diz que "o que passou, passou" ou que "águas passadas não movem moinhos", pois há assuntos que fogem à regra. Pessoalmente, eu creio que tudo o que passa tem, de certa forma, ligação com o presente.
As personagens corruptas, presentes, por exemplo, no "Auto da Barca do Inferno", não existiram somente na Idade Média. Quantos "Onzeneiros" ainda não vemos hoje por aí! E quantas "Alcoviteiras"? Aqueles que"roubam de praça" ainda não desapareceram por certo.Por esta razão é que o "Auto da Barca do Inferno" medieval se adapta ao presente: as suas personagens continuam ainda tão actuais como há cinco ou seis séculos atrás.

Chamaram ao teatro de Gil Vicente um "teatro de transição" entre a era medieval e o Renascimento. Mas eu acho que as peças vicentinas não se ficaram por aí e que, de certo modo, podem ter sempre alguma lição de moral ou ligação com a nossa geração ou gerações vindouras. É, portanto, um chamado "teatro de transição" originado na Idade Média e que vai perdurar, não só até ao Renascimento, mas até ao momento em que já não haja nenhuma lição para dar, algo que me parece muito distante.

Explicit

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