terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Não será extenso... pelo menos com a quantidade e mistura de sentimentos que tenho dentro de mim, isto será bastante breve... isto porque também tenho o objectivo de seguir os dia pelo caminho que tem de ser e isso não tem de ser como a gente sempre quer. Muitas vezes há que fazer o que não se quer para levarmos a vida por diante... e isto se queremos levá-la, pelo menos, minimamente bem.
Não sei por onde hei-de começar... foram tantos os anos!... Treze, para ser mais exacta... e treze anos não se avaliam de um momento para o outro.
Mas talvez já tivesse que ser! A vida é estranha e digo-o por causa do meu nascimento, igualmente estranho... eu tinha de ter começado a nascer justamente à porta desse lugar de onde quero desaparecer... isto porque não posso ficar...
E, ironia, tinha de regressar a esse sítio três anos mais tarde... tu, igualmente... duas excepções à regra... Para ainda mais ironia minha, não bastava já esse ponto e ainda tínhamos de ingressar no mesmo colégio no mesmo ano de novo... Tinha de ser, não sei porquê, mas tinha.
Durante anos da minha vida não quis saber... para mim, havia pessoas mais importantes... e não via, ou pelo menos, fingia que não queria ver, ainda que soubesse... Eu tinha consciência disse, mas passava incólume e como se não soubesse de nada... no fundo, mentia a mim mesma...
E como isso me saiu caro! Tinham de passar treze anos para ser a minha vez de te olhar de outra maneira... mas creio ter chegado demasiado tarde...
E, no entanto, durante treze anos, tínhamos de ter vidas iguais... E éramos para seguir caminhos iguais...
Mas eu não posso...
Ainda que tenhamos jeito para as mesmas coisas, ainda que gostemos das mesmas coisas, ainda que façamos as mesmas coisas, eu não posso seguir o mesmo nem ter os mesmos projectos... ainda que queira e os tenha...
Desde o início deu para reparar, somos bastante semelhantes e isso até que tinha piada, tanto para nós, como para as outras pessoas, nomeadamente professores, que passavam as aulas a fazer (imagine-se!) um paralelo entre nós os dois... com o tempo, isso deu ligar a uma espécie de competição... entende-se...
Mas, mesmo que queira, não posso caminhar na mesma direcção, por dois motivos muito simples: o primeiro, é que, ao contrário de ti, eu não tenho apoio para isso e toda a gente me puxa para trás e me empurra para outros sentidos; o segundo é que vou deixar, por isso, que a Vida me surpreenda nesse aspecto, como tem feito até agora... se, de facto, eu tiver de seguir o mesmo caminho, ela dará o seu sinal, como deu no meu nascimento... só tenho, pura e simplesmente, de esperar... Se, de facto, o meu destino for o mesmo que o teu, ela vai acabar por dizer-me de alguma maneira... por enquanto, vou-me deixando ir, talvez um pouco ao sabor do vento que bate e isso nem é sempre bom, aliás, talvez nunca seja...
Mas tudo indica que não. Até posso estar enganada mas, ao que vejo, não parece que isso vá acontecer... e, por isso, estou disposta a esquecer tudo, que não posso viver no passado, por mais agradável que seja...
Vou esquecer tudo... vou esquecer as constantes apostas antes dos teste a ver quem tirava 19 (também, nesse aspecto, éramos tontos, quem dera a muita gente tirar 19, os outros nem passavam o 15)... vou esquecer os Sábados de manhã e aqueles ensaios em que combatíamos, também porque o gosto pelo desafio tinha de ser comum, para ler as pautas ao contrário e os sermões do professor porque, no seu dizer, não estávamos calados um minuto que fosse (também vou esquecer aquela vez em que eu me parti a rir na fila de trás porque, inconscientemente, começaste a dançar em cima do palco enquanto cantavas, mas isso é mesmo para esquecer). Também vou esquecer aquela vez em que apostaste que fazias uma sonata em 3 minutos e, nesse tempo, fizeste apenas 3 sistemas, no caminho para Tormes.
Mas, agora falando em esquecimentos mais sérios... também vou esquecer as vezes que ficámos fechados no audiório porque (até nisso tínhamos de ser iguais) nunca ouvíamos o que professor dizia... mas, se até era para ser algo mau, até acabava por ser agradável (sobretudo as palemices com os discos, mas isso já é mais complicado).
Vou esquecer as vezes em que me irritavas de propósito para eu ir a correr atrás de ti e as vezes em que te escondias de propósito para me fazer revirar o edifício do avesso... vou esquecer também as vezes em que ficámos numa sala a tocar piano à vez, o passeio pela serra e as vezes que me escondi em salas escuras para não ter de me ir embora… vou esquecer a camélia que recusei e as vezes que te pedia para assistires a um recital, concerto ou exame e que recusavas, dizendo que não podias… mas, nunca to disse, sempre que eu olhava para a entrada, conseguia ver os teus olhos a espreitar pela porta entreaberta… vou esquecer as alturas em que te sentavas ao meu lado no mesmo banco do piano a tocar as mesmas músicas ao mesmo tempo que eu…
Estes são exemplos das coisas que quero esquecer, nomeadamente o que significaste para mim… porque, para mim, foste como um raio de Sol que entrou na minha vida e que iluminou o meu coração…
Mas o tempo não pára e tinha de me trazer a este ponto, o de me acobardar e de dizer o que já devia ter dito à tanto tempo… De que me vale dizê-lo agora?
Apenas me vale como consolo, como meio de alívio do que tive tanto tempo entalado no peito…
Só sei que, por vezes, ainda me escondo naquela sala às escuras e toco no piano as músicas do costume, apenas iluminada pelas luzes da rua que passam pela janela. Porque qualquer meio me serve para voltar atrás um tempo, nem que não o faça de todo, porque agora estou sozinha… E sinto um frio e um vazio tão grande que até parece que um coração que já não tenho (onde parará ele, onde estará) se volta a converter de uma névoa de gelo como esteve durante tanto tempo durante treze anos…
Creio ser hora de me despedir. Não sei o que me reserva o futuro, se eu seguir apenas o que ele me indicar… E assim fica, cada um para lados diferentes, por uma vez na vida…
Confesso que sinto a tua falta… já lá vão, pelo menos, oito meses. Mas, quem sabe, pode ser que um dia, uns anos mais tarde, como no início, eu te volte a encontrar sem querer, talvez por coincidência, na mesma sala… Não interessa o que estarias lá a fazer nem por que razão eu teria entrado… só interessa que, nessa altura, te vou fazer outro convite, não para um recital ou concerto, mas para nos sentarmos e tocarmos as músicas do costume…

Até sempre.

1 comentário:

Eu disse...

Olá :)
Quase chorei, so' que sabes como é...
Gostei muito do texto, chamamos-lhe 'lamechas' porém é algo que vai dar em casamento, e que os vossos filhos terão o mesmo comportamento, ou pelo menos semelhante, (AULA DE FILOSOFIA)

Acho que a saudade é um caminho por vezes doloroso, mas há atalhos.

Bjinhos

113