quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A boneca


Dois tiros...


A cidade está calma, silenciosa;
no ar, o silêncio mata
e por entre ares tóxicos e venenos
soa a sinfonia de dois tiros...


Um pássaro morto jaz no chão
Jaz sem asas e sem bico:
levaram-no os insectos
que sobrevivem na terra estéril de cinza...


Recordações, tantas vidas, tantos sonhos,
agora os incêndios iluminam a cidade
partes de corpos (do que parece) enfeitam as janelas
o rio que corre na rua é vermelho...


Dois tiros...
Uma criança...


A criança olha, em pé, consigo a boneca
e o seu coração está vazio, ferido
e o chão queimado é humedecido
por inocência vermelha que, com Sol, não seca...


Menina, criança, não chores!
A boneca, rota, deu-lha sua mãe
Mas a mãe já não está, não lhe pega ao colo
Qual deles, qual dos vultos do chão seria a sua mãe?

És um cadáver, cidade, estás morta
e contigo morrem os sonhos, esperanças,
queimem-se os vossos telhados de dor e angústia
derrubem-se as paredes sádicas e hipócritas!


Dois tiros...
Uma criança...


Cai a boneca...

2 comentários:

Eu disse...

Olá Gabriela,
Este poema já me foi apresentado, e é arrepiante, não só pelo cenário que descreves, como pelos recursos estílisticos, que dão vida a um cenário que está morto.

Quando o leio só me ocorrem cores como o vermelho e o negro, e uma criança sozinha no meio de tanta gente morta.
(...)

Gostei bastante, continua :)

Beijinho

poetaeusou . . . disse...

*
"Hiroshima Meu Amor”
simplesmente,
,
conchinhas,
,
*

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