Dois tiros...
A cidade está calma, silenciosa;
no ar, o silêncio mata
e por entre ares tóxicos e venenos
soa a sinfonia de dois tiros...
Um pássaro morto jaz no chão
Jaz sem asas e sem bico:
levaram-no os insectos
que sobrevivem na terra estéril de cinza...
Recordações, tantas vidas, tantos sonhos,
agora os incêndios iluminam a cidade
partes de corpos (do que parece) enfeitam as janelas
o rio que corre na rua é vermelho...
Dois tiros...
Uma criança...
A criança olha, em pé, consigo a boneca
e o seu coração está vazio, ferido
e o chão queimado é humedecido
por inocência vermelha que, com Sol, não seca...
Menina, criança, não chores!
A boneca, rota, deu-lha sua mãe
Mas a mãe já não está, não lhe pega ao colo
Qual deles, qual dos vultos do chão seria a sua mãe?
És um cadáver, cidade, estás morta
e contigo morrem os sonhos, esperanças,
queimem-se os vossos telhados de dor e angústia
derrubem-se as paredes sádicas e hipócritas!
Dois tiros...
Uma criança...
Cai a boneca...
2 comentários:
Olá Gabriela,
Este poema já me foi apresentado, e é arrepiante, não só pelo cenário que descreves, como pelos recursos estílisticos, que dão vida a um cenário que está morto.
Quando o leio só me ocorrem cores como o vermelho e o negro, e uma criança sozinha no meio de tanta gente morta.
(...)
Gostei bastante, continua :)
Beijinho
*
"Hiroshima Meu Amor”
simplesmente,
,
conchinhas,
,
*
Enviar um comentário