Agosto, tempo de férias!
Portugal, destino de inúmeros turistas do norte da Europa que procuram o nosso clima agradável face às condições climatéricas dos outros países!
Algarve, parte do território nacional que cada vez mais se torna uma região estrangeira!
Vou começar pelo princípio.
Há 4 anos estive, pelo Natal, na GALIZA, Santiago de Compostela (é que não era, nem Castela, nem Catalunha, era GALIZA, onde a língua é um espanhol aportuguesado, a meu ver) e, como me deu a fome, entrei num café tipicamente do século XIX (de certeza que a idade esteve incluída no preço, se é que me faço entender, era caríssimo, soube-o no fim). Atendeu-me um empregado sorridente que perguntou o que eu queria, ao que eu respondi:
- Uma torrada.
O empregado afastou-se. E, juntamente com ele, o tempo também. Passou meia-hora, quarenta e cinco minutos, uma hora... e nada da torrada! Por isso fui ao balcão investigar. E comecei:
- Eu tinha pedido uma torrada há uma hora atrás e ainda não fui servida.
- Ah! Es que no lo hemos entendido y, por eso, nada fue hecho.
- Uma torrada?
- No comprendo.
(mas a minha frase de reclamação compreenderam bem, lá isso é verdade)
- Torrada? Pão torrado?
O empregado abanou a cabeça. E eu não sabia como havia de dizer. Por isso, atirei sinónimos:
- Pão torrado? Pão quente? Pão queimado? Não, isso também não. Pão tostado?
- Ah! Una tostada! Sí, algo más?
...
Bem, creio que já todos conhecem o típico modelo espanhol, grande orgulho pelo seu idioma e as constantes traduções de filmes pois não aceitam legendas. Tudo em espanhol, por favor, parecem dizer (no mesmo dia, no hotel em que estive, liguei a televisão e deram vários filmes ingleses... dobrados em espanhol). No entanto, há neles um sentimento que falta aos portugueses: o nacionalismo.
...
Situação totalmente diferente encontrei em Portugal. Estive no Algarve e, também devido a fome, entrei num restaurante. Peguei no menu...
Não sei se os outros restaurantes eram iguais, mas aquele menu estava em inglês! Nem português tinha! Devo dizer que perdi o apetite...
Esqueci de dizer que o Algarve é o destino preferido dos turistas (pessoalmente acho que há destinos mais interessantes e com mais cultura) nomeadamente... dos ingleses.
Pois é! O português sempre foi assim: não sei se devido a complexos de inferioridade por habitar um país pequeno e ainda por cima na cauda da Europa, o que o torna um pouco "aparte" (pelo menos ele assim o pensa) mas sei que se deixa arrastar que nem um cordeirinho pelo estrangeiro (quantos portugueses ouvimos todos os dias a vangloriar o estilo de vida estrangeiro!).
Mas sempre fomos assim. Quer dizer, os portugueses são aquelas pessoas que tentam mostrar ter muito quando não têm nada. Citarei o século XIX mais uma vez.
O século XIX em Portugal foi péssimo; fomos devastados pelos franceses, imensas pessoas partiram para outros países e vivia-se um período de miséria em que as pessoas morriam de fome na rua. No entanto, tanto pobres como ricos gastavam balúrdios de dinheiro. Em quê? Sei que parece brincadeira mas é sério, com História não se brinca, mas mais do que comprar comida com o pouco que tinha, o português gastava fortunas em... ...
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... em óculos...
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Isto é verídico. E porquê?
Porque, a seu ver, os óculos davam "classe" a qualquer pessoa e faziam-na parecer ter e ser mais do que aquilo que tinha e era. Até as pessoas com boa visão não dispensavam uma colecção de óculos para usar em locais públicos, mas sabem como é, noblesse oblige, ainda que seja não ver um palmo à frente do nariz. Aliás, isso teve influências no estrangeiro: em França, às pessoas que gostavam de óculos e tinham vários diferentes dizia-se: "Pareces um português!"... E não era uma apreciação boa, na certa...
Depois vem o acordo ortográfico. Objectivo (dizem): diminuir os erros de ortografia, tirando letras que não se lêem e adaptando a escrita à pronúncia. Como metem piada! Não é por tirarem os "h" e alguns "p" e "c" que adaptam a língua à pronúncia; daqi a pouqu tomam uma medida máix radical i mudam pur qompletu ax palavrax, mudam-nax pur inteiru, assim sim, vamux adapetar a língua à prunúncia, na exqola, agora é qe ux prufeçorex nãu vãu máix ter trabalhu a qurrijir ux errux urtugráficux. Vêem? Isto é que é a adaptação da língua à pronúncia! Mas isto eles não adaptam!
Um dia acordo, visto um fato e entorno café por cima, o que é um fato aterrador para um fato. E isto do acordo ortográfico é um fato irritante. E não só: um dia acordo e o acordo lá levou os acentos consigo.
A língua deve ser independente dos falantes e, como os seres vivos, muda com o TEMPO. A evolução da língua deve ser algo natural, até porque com o acordo perdemos grande parte da nossa herança latina e árabe.
Agora querem mudar o nome Algarve (a Ocidente) para Allgarve (todos a Ocidente). Pronúncia inglesa incluída.
Penso que devíamos urgentemente rever as nossas prioridades, com assuntos a sério ninguém se preocupa e aprender que o patriotismo não é só para o Futebol. E, se gostamos tanto do que é estrangeiro, imitá-los um bocadinho nesse aspecto, aliás, em Inglaterra há imensas cidades mas nunca vi nenhuma que se chamasse Londres...
...London, talvez...