Hoje, vou mostrar-vos um óptimo exemplo do artificialismo poético de Camões.
Vejamos, o poema tem 4 estrofes. Aqui está o poema, aparentemente de deslouvor.
- Louvando e deslouvando uma dama -
Sois uma dama
das feias do mundo
de todas da má fama
sois cabo profundo
a vossa figura
não é pera ver
em vosso poder
não há formosura.
De grão merecer
sois bem apartada
andais alongada
de bem parecer
bem claro mostrais
em vós fealdade
não há i maldade
que não precedais.
Vós fostes ditada
de toda a maldade
perfeita beldade
de vós é tirada
sois muito acabada
de tacha e de glosa
pois, quanto a fermosa,
em vós não há nada.
De fresco carão
vos vejo ausente
em vós é presente
a má condição
em ter perfeição
mui alheia estais
mui muito alcançais
de pouca razão.
Agora, vamos colocar o poema na sua forma original. Para isso, colocam-se os versos da 2.ª estrofe à frente dos da 1.ª e os versos da 4.ª estrofe à frente dos da 3.ª. Lê-se linha a linha, como num poema normal. Assim, fica:
Sois uma dama de grão merecer
das feias do mundo andais apartada
de todas da má fama andais alongada
sois cabo profundo de bem parecer
a vossa figura bem claro mostrais
não é pera ver em vós fealdade
em vosso poder não há i maldade
não há formosura que não precedais.
Vós fostes dotada de fresco carão
de toda a maldade vos vejo ausente
perfeita beldade em vós é presente
de vós é tirada a má condição
sois muito acabada em ter perfeição
de tacha e de glosa mui alheia estais
pois quanto a fermosa mui muito alcançais
em vós não há nada de pouca razão.
Afinal, bem se pode chamar a isto um poema de louvor e deslouvor!
Depende de como é lido...
Grande génio me saiu este Camões, hehehe...
Há 2 meses
1 comentário:
Depende realmente de quem o lê, mas sempre é a mais em algo nem que seja no facto de ser feia.
O Camões persegue-nos, ainda agora temos que saber o uso do artificial, e há escritores do nosso século e do passado que nem sequer são estudados.
Isso significa muita coisa...
Beijinhos
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