domingo, 14 de setembro de 2008

in memoriam


a tarde passava silencioza, cinzenta
ainda nem eu nome teria
e mesmo sem experiência de vida
fui eu que te baptizei
e dei-te um nome: 'vó
-
sim, 'vó e não avó
porque o número de letras não importa
e era de maior jeito um nome mais curto
visto que o chamava muitas vezes
-
guardo comigo na memória
as histórias que sempre pedia
mas porquê, 'vó, explica-me
por que eram sempre tão tristes?
-
a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando no jardim da minha vida
entristeço-me
-
mas o tempo não pára
árvores já ganharam e perderam folhas
rios já encheram e vazaram
flores já nasceram e já murcharam
-
as estações sucedem-se
e, tal como já fui pequena um dia
agora estou grande, cresci
e se visses como estou enorme
-
tal como o número de letras
também o tamanho não importa
porque ainda continuo a ser a menina das trancinhas e dos folhos
que fielmente todas as noites
quando o sono custa a chegar
ainda pede como quem pede o mundo
(o meu)
"avó, conta-me uma história"
-
a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando no jardim da minha vida
entristeço-me
quando vejo que hoje um banco está vazio
-
(à minha avó, onde quer que ela esteja)

2 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
bancos
em outonos vazios,
porém recordados . . .
,
cristais nocturnos, envio,
,
///

Carla disse...

adorei este teu texto que me levou até às doces lembranças da minha avó
beijos

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