quarta-feira, 25 de junho de 2008

Francisco de Sá


Francisco de Sá é, de todos os meus heterónimos, o mais agradável. Quem se sentirá mal ao pé deste sonhador de caracóis loiros e olhos azuis?
Tem 23 anos e é um jovem inteligente. Podia participar nas folias dos outros jovens da sua idade, mas prefere o campo e sentar-se debaixo de uma árvore, umas vezes a tocar uma flauta feita por si, outras a imitar o arulhar dos pombos, ou mesmo estendido na relva a sonhar enqnato olha as flores. É de poucas palavras e, como é tímido, envergonha-se com facilidade. É ajudante de Saraiva Baptista que, de quando a quando, tem de lhe dar umas palmadas na cabeça; como senhor racional que é, Saraiva Baptista não tolera muito as súbitas distracções de Francisco.
Está sempre alegre e nunca tem uma expressão pesada. Muito modesto, nunca teve um momento de vaidade ao pé de elogios, que são frequentes.
Nunca tem maus pensamentos ou preocupações. Todo ele é flores, nuvens, rios, montanhas... Só sonha com coisas bonitas...
Adora borboletas e faz retratos minuciosos delas.
É alto e isso não lhe agrada muito: preferia ser mais baixo, porque assim os galhos das árvores não se partiam com facilidade quando as trepa. E também ficava ao nível das crianças, com as quais simpatiza muito.
No meio da confusão, é o pacificador.
E a sua poesia é sonhadora como ele, livre como ele e muito fluida... quase prosa... usa frequentemente elementos da natureza. Comove-se com facilidade por motivos mínimos para muita gente.


O pássaro está morto
E, como ele, também eu morro aos poucos
Cada vez que recordo,
Com saudade,
A canção do pássaro morto.


O pássaro está morto
E fui eu que o segurei morto.
Não pode voar para o céu.
É escura, triste e fria
A lápide do pássaro morto.


O pássaro está morto e eu também.
Deito-me debaixo da árvore onde cantou.
As folhas caem da árvore sobre mim
E eu fecho os olhos,
Começo a sonhar…


Enquanto morro eu tenho um sonho:
Nele, as flores têm mais cor
A árvore cobre-se de folhas novas
E, inquieto e feliz na janela,
Ouço cantar o pássaro morto…




1 comentário:

Eu disse...

Olá D.Gabriela :)
Gostei de conhecer melhor o Francisco de Sá, pois só conhecia o seu nome.

O poema, não vou dizer que é triste pois como já me disseste cada heterónimo que utilizas tem um pouco de ti, logo ao gostares de poemas desse género eles também gostam.

:)

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