domingo, 26 de outubro de 2008

A chave de ouro


Era uma tarde de Outono
De um Novembro bem dourado
E eu carregava uma caixa
Transportada com cuidado.

Uma caixa de madeira
De flores ornamentada
E envolta em veludo
Ia uma chave dourada.

Essa chave, que abria?
Mas que abria, pois, senão
Um pesado, ferrugento
E desditoso coração?

(Coração que abandonas
O teu gosto mais sagrado
Eu tentei deitar-te fora
Pois me eras muito pesado.)

(Estás em estado lastimoso!
Perdoa, coração, perdoa,
Este ser inconformado
Que tantas vezes te magoa!)

Era uma tarde de Outono
Um anjo apareceu do nada
E tentou tirar-me à força
A minha chave dourada.

Quanta pena eu não senti
Desse anjo desgraçado
Pois seu pobre coração
Lhe havia sido tirado!...

Num ápice de compaixão
Eu mesma lhe dei o meu;
Levou-o, deu meia volta
Nunca mais mo devolveu.

Durante dias e dias
Eu tentei viver a jeito
De procurar ocultar
O vazio do meu peito.

Na calçada de uma rua
Encontrei-o abandonado
O meu pobre coração,
Tão desfeito e magoado!...

Estendi-lhe os meus braços
Com cuidado o agarrei
E com medo de o perder
Com mais força o abracei.

Antes de o tomar por meu
Peguei na chave dourada
Quando abri o coração
Dentro não estava nada!

Coloquei-o no meu peito
Com a alma lacrimosa
Pois se lhe haviam espetado
Os espinhos de uma rosa.

Mesmo tendo o coração
Meu peito ficou vazio
E, num lance impulsivo
Atirei a chave ao rio…

(Era uma tarde de Outono
De um Novembro bem dourado
Que me deixou destroçado
Pois para meu desalento
Fiquei com o coração
Sem brilho e ferrugento.)

Permanece a chave d’ouro,
No rio desde essa data
E nunca mais ninguém abriu
O meu coração de lata…

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A água no século XX: um problema de todos nós

É no âmbito da sensibilização das camadas mais jovens para a preservação do meio ambiente que se segue o seguinte texto, que visa consciencializar e chamar a atenção para um dos elementos essenciais à vida: a água.
A água é dos principais responsáveis para garantir a qualidade de vida humana e preservá-la, não só a ela, mas a todas as outras espécies animais e vegetais que usufruem deste líquido tão precioso e tão barato e cuja contaminação nos fará pagar um preço tão caro!...
Porque a saúde da água não é só problema dos ambientalistas, mas diz respeito a todos os que dela usufruem, sugerem-se algumas medidas que, tomadas por todos, poderão ajudar na sua preservação e utilização sustentáveis:

1. não escovar os dentes e deixar a torneira aberta;
2. reduzir o número de banhos de imersão;
3. regular a rega automática para menos tempo;
4. ajudar na sensibilização para importância da água no meio em que se vive.

Existem muitas outras medidas, mas é sempre bom começar por algum lado, sem pensar que seremos só nós a fazê-lo porque se todos pensassem assim, o mundo não avançava. E porque o futuro da Humanidade são os jovens é desde já necessário que incutam medidas ecológicas e procurem transmiti-las às gerações vindouras, por quem devemos zelar...

Mais do que bens materiais, que melhor herança poderão receber as novas gerações que um planeta limpo, seguro e com qualidade de vida?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Buena Vista Social Club - impresiones sobre la película

Ayer visionamos en la clase de Español una película que trataba esencialmente de la música cubana, del realizador Win Wenders. Debería ser, entonces, algo más de audición de que propiamente visualización. Pero eso no se confirmó, hasta porque la película mostraba la auténtica realidad cubana: las calles, las personas, sus casas...
En cuanto a mis impresiones: me he quedado un poco espantada, hasta porque los destinos de los turistas son las partes de Cuba, como puedo decir, más "desarrolladas" y la publicidad, por cuestiones de marketing, solo muestra lo agradable.
La película me dio la oportunidad de ver el otro lado de Cuba, con sus calles con edificios, unos cayendo, otros necesitando una remodelación, los interiores de las casas eran pequeños, el mobiliário era una mezcla de aparatos antíguos con otros ya más modernos...
Sí, en el princípio, me ha espantado... pero, después, eso me ha pasado; empezando a "entrar" en el ambiente, hasta me he quedado satisfecha, porque las personas son felices... y su buen humor está presente en su música, muy alegre y, cuando más melancolica, no deja de tener siempre ritmo con una mezcla de buena disposición, hasta porque es una música movida.
Si se quiere encontrar muestras de la existencia de la felicidad, se debe ir a Cuba: ellos parecen más felices que nosotros, en nuestra realidad talvez no tengamos una felicidad "transparente", o sea, verdadera y sin mácula, siempre preocupados con el dinero, nuestros bienes materiales, el empleo y las lamentaciones sobre el sistema político.
No se debe asemejar Cuba a algunos países africanos; en Cuba se puede encontrar la verdadera felicidad, pues tienen lo indispensable para vivir y, más que necesitar de "tener" o "ser", sus prioridades son "vivir" y "sonreír".
... Cuba, la sonreísa del globo...


:)

Parágrafo - a realidade dos agricultores portugueses

"O envelhecimento demográfico dos agricultores condiciona o desenvolvimento da agricultura portuguesa." Com efeito, o nível de instrução dos agricultores, embora tenha vindo a aumentar, é ainda relativamente baixo (só uma pequena parte tem habilitações que vão além do ensino básico); além do mais, a formação profissional da larga maioria dos agricultores continua a ser exclusivamente prática, o que leva a que os agricultores portugueses não tenham experiência suficiente para utilizar técnicas mais avançadas. Os produtores agrícolas são maioritariamente idosos e já não têm tanta capacidade de aprendizagem ou querem ser fiéis aos seus ensinamentos, pelo que não adoptam técnicas agrícolas mais sofisticadas, essenciais ao desenvolvimento agrícola.

domingo, 19 de outubro de 2008

O sonho...

A mulher entrou na sala. Sentou-se. Os seus dedos percorreram, ágeis, as teclas brancas e pretas de um piano escuro. Com o seu sucesso pendente nas bocas dos críticos, foi impossível dizer se correra bem ou mal. Voltaria lá, ao fim de duas semanas.
De facto, na segunda vez, cometeu um ligeiro engano. Não fora coisa grave. Erros, no fim de contas, todos cometemos. A opinião dos críticos foi mais positiva. Era um bom sinal.
Depois de uma noite de êxito aparente, despediu-se e, calmamente, entrou em casa. Assim, sim, era bela a vida! Levou o gato consigo, atirou a roupa para um canto do quarto, vestiu a primeira camisa que encontrou e deitou-se na cama.

Voltou nessa mesma noite. Não que tivesse algo agendado. Mas também não se lembrava de não o ter.
Entrou na sala como de costume. Tudo correu como de costume. Por fim, levantou-se, agradeceu também como de costume e cedeu o seu lugar.
Mas não conseguiu ficar para assistir. Estava num dia de menos paciência. Esperou pelos aplausos e saiu, silenciosa, da sala.
O corredor estava deserto. Decerto, daí a alguns minutos, teria de voltar à sala para dar umas palavrinhas.
Nem teve tempo de pensar. Antes de o ter feito, já uma lâmina fria e aguçada lhe tinha aberto o peito.
Quando acordou, encontrava-se no chão. Teria sido apenas um susto?
Voltou para a sala. Ouviu chamarem o seu nome e encaminhou-se para a frente.
Oh, quanta monstruosidade! Alguém lhe havia aberto o peito e arrancado o coração!
Estática, apavorada, em pé, não se sabendo viva ou morta, a mulher olhava para o grande buraco no seu peito, todo esventrado e remexidas as entranhas. Das veias rotas saíam vários esguichos de sangue que tingiam de vermelho as faces pálidas dos presentes…

Acordou, estremunhada, branca como a parede. Estava em casa, na cama. O gato a seus pés. Num canto, a roupa que havia atirado. Com um suspiro de alívio, colocou a mão direita sobre o coração. Não estava lá.

A Amizade


Qual será melhor?
a pessoa pelo que é
ou aparência que ela tem?
E vós, que respondeis?
Escolhei
e depois
vereis
e aprendereis
que a pessoa vale mais
como é:
não sejais interesseiros,
pois, a maioria das vezes,
o rico é o mais
ignorante.
Igualmente, o mais bonito
é o mais escolhido
de entre todos.
Ninguém
é forçado a gostar
de alguém.
Pois as aparências
iludem.
Então, pois,
mudem,
em termos de escolha.
Se quereis
alguém que ensine,
alguém que animem
alguém que console
e, sobretudo,
alguém que perdoe,
que não magoe,
escolham aquele
que tem a virtude
do Perdão:
só esse tem bom
coração!...

domingo, 12 de outubro de 2008


The night dies sweetly when the sun awakes
and my heart, with joy, happily is singing
It makes no sound and quetly I'm hearing
The beautiful song that a nightingale makes.
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For so big hills, long rivers and deep lakes
I saw the swans with their long necks swimming
And I continued my way, with you, walking
And seeing the trees that the strong wind shakes.
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You gave me to drink your cup of wine.
Your cursed cup that imprisoned a sunshine
The most beautiful sunshine we've ever seen!
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All these hills belong to me until that side
Day, night, sun, birds, forests, lakes, they're all mine
And if I am their Lord, you will be my Queen!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Desabafos/pensamentos

Dia seco de imaginação. Falar sobre o quê, não sei. Dia seco de pensamento. Ideias, frases com nexo para pensar em coisas sem nexo. Grande por fora, pequena por dentro... Crescer, não o fiz. Se fiz mal, não sei. A meu ver, melhor serve uma essência de criança num corpo adulto, mais por questões funcionais, pois o corpo adulto tem mais capacidades para lutar pelos seus sonhos... Se eu tivesse um corpo de adulto e uma essência igualmente adulta, o corpo de nada me valia, pois grande parte das mentes adultas conformam-se com a sua realidade e eu sou uma inconformada.
Criança, eu penso no que me apetece. Os mais velhos são autómatos. Há dias a chefe da minha mãe chamou-a à atenção, chamou-a egoísta porque parecia viver para os filhos e não para o trabalho. Eu não quero ser um autómato para servir a sociedade! O ser humano não deve servir a sociedade, deve criar uma sociedade com condições para o servir.
Não quero ser autómato! Não quero ter de trabalhar para luxo de uns e "criar o bem da sociedade", bem esse que, mesmo que exista, não é gozado pelas pessoas que lutaram por ele, pois estão demasiado ocupadas a ser autómatos. O lema actual é: trabalhar para ter, mas tendo, não aproveitar... trabalhar sempre para ter mais mas não ter tempo para aproveitar o que se tem...
A minha mãe quer que eu seja juíza para prender criminosos... mas, por exemplo, entre juíza e professora eu preferia ser professora. Não quero castigar pessoas, prefiro formá-las... assim, os castigo serão desnecessários e a sociedade pode tornar-se melhor...
É tarde... acabo para uma boa noite de sono: o corpo adulto precisa descansar... Mas ainda que o corpo adulto tenha maior força e vigor, é a mente frágil de criança que ergue castelos...

domingo, 5 de outubro de 2008

A agricultura portuguesa: problemas estruturais e oportunidades

"O principais problemas estruturais da agricultura portuguesa dificultam o aproveitamento de muitos pontos fortes que podem favorecer o seu desenvolvimento."

Se não olhássemos apenas à agricultura, podíamos constatar que em tudo acontece situação semelhante: por muito bons que sejamos em algum ofício, se não o trabalharmos ou estudarmos, nada poderemos fazer. Uma pessoa até pode ter jeito para a pintura, mas se não se desenvolver, ficará sempre apenas com as noções básicas.

O mesmo se passa com a agricultura portuguesa. Acontece que Portugal está muito dependente do comércio externo dos produtos agrícolas; nós, portugueses, importamos mais do que exportamos. É raro o produto em que isso não acontece. E, no final, podemos constatar que o balanço comercial português é negativo.

Por muito boas condições que tenhamos, se não tivermos meios capazes de as aproveitar, de nada nos servem. Isto refere-se ao facto de Portugal ter óptimas condições climatéricas, visto termos uma situação geográfica privilegiada, criando ambientes propícios para a agrocultura, em especial mediterrânica. Também se verifica uma crescente utilização da água para a rega e sempre mostrámos potencial na produção de produtos tão variados como azeite, vinho, produtos florestais e produtos horto-agrícolas; a juntar a esse ponto, conseguimos produzir produtos de grande qualidade. E, como todos nós somos "verdes" à nossa maneira, cada vez mais se verifica um aumento no que trata às maneiras ecológicas de produção.

Pois, temos bastantes potencialidades, ainda que achemos, por vezes, que o nosso país não tem condições. Mas estas não podem ser aproveitadas, pois Portugal enfrenta obstáculos que impedem o aproveitamento dos nossos pontos fortes. Um deles é o predomínio de explorações agrícolas de pequena dimensão, o que impede a modernização da agricultura (caracterizada por máquinas de grande envergadura) e produz menos. Outro ponto é, sem dúvida, a demografia: cada vez mais os jovens saem do interior para o litoral e tiram um curso superior (abandono dos espaços rurais), deixando no interior uma população cada vez mais envelhecida e, muitas das vezes, com baixos níveis de alfabetização cuja única profissão a que podem aspirar é a agricultura, visto que têm de ganhar a vida de algum modo e é, muitas vezes, a única profissão que conheceram dos pais. Como os agricultores têm baixa instrução, não se encontram aptos para utilizar técnicas agrícolas mais sofisticadas. Além do mais, temos o facto de as zonas rurais terem um baixo nível de adesão às novas tecnologias. Mas o problema não se encontra apenas nos agricultores: Portugal é um país caracterizado pela falta de competitividade externa, o que leva a que, nos mercados externos, os produtos agrícolas portugueses sejam vistos como de fraca qualidade, ainda que não o sejam. Agora o ponto a que eu acho mais "graça" é o facto de os portugueses não saberem aproveitar bem os solos. Eu explico. Podemos ter o solo A e o solo B. O solo A tem aptidão para , por exemplo, trigo e o solo B tem aptidão para arroz. Ora acontece que os portugueses raramente tomam atenção a isso, sendo bem capazes de no solo A plantar arroz e no solo B, trigo, quando devia ser o contrário. Depois os solos, como têm culturas não muito apropriadas, produzem menos ou podem ainda ficar estragados, o que leva a um aumento do espaço infértil (desertificação).

Ainda que, muitas vezes, o nosso país seja visto como incapaz em muitos sectores, o certo é que nem sempre a culpa é do país. Basta ver pelo exemplo da agricultura portuguesa; a culpa da nossa fraca produção não é do país, ou seja, dos nossos solos ou dos nossos recursos, mas de quem os aproveita. É o meu ponto de vista. Agora sem falar apenas na agricultura, mas sim no geral, na certa podemos encontrar muitas outras potencialidades que o nosso país tem. Se calhar não somos um dos países mais pobres da Europa, pelo contrário, se calhar andamos a portar-nos como meninos ricos que têm demais e, por isso, não aproveitam o que têm. Senão, como se explica o facto de haver países com menos potencialidades que nós e que são mais desenvolvidos? Porque, precisamente por nada terem, criaram um ideal, um ideal de desenvolvimento e que, na certa, custou muito trabalho a ser atingido.

... Talvez o grande problema português seja a falta de ideais, objectivos... Talvez o grande problema português seja o de depositarmos tudo em cima dos políticos e ficarmos de braços cruzados e, quando as coisas acontecem, depositarmos as culpas para os superiores, equecendo-nos que, no país liberal e democrático que é PORTUGAL, quem detém o poder não são os nossos superiores, mas o POVO que os elegeu. Pois desde sempre foi o POVO quem conferiu poderes aos líderes do país.

Vamos deixar de estar sentados e esperar que sejam sempre os outros a fazerem as coisas. Porque, se todos pensarem assim, quem as fará? Vamos, também nós, construir um ideal e trabalhá-lo, e desse modo, criar novas oportunidades para as gerações vindouras. Vamos deixar de adoptar como melhor o que é estrangeiro pelo que é nacional...


VAMOS TORNAR ESTE "CANTINHO À BEIRA MAR PLANTADO" UM POUCO MAIS FLORIDO!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Datas-memória


Confesso: estava sem qualquer assunto para uma crítica. Apesar de ser quarta-feira, serem 22:36 da noite e de eu saber que esta redacção deveria estar pronta a tempo (ou seja, até HOJE, que não tenho o tempo todo), nem mesmo a pressão me ajudava a raciocinar mais depressa. Porque no meu caso a necessidade não costuma aguçar o meu engenho, antes ainda mo entorpece mais… para fazer uma coisa bem feita, dispenso a pressão: antes, preciso tempo. E tempo era o que eu não tinha.
Sem qualquer assunto para escrever, decidi dar uma olhada no Jornal de Notícias que leio, não pontualmente nem fielmente, mas religiosamente todos os dias.
As notícias? As do costume. Desgraças, como sempre, com as coisas mais alegres e culturais no final… também, se estivessem no início, eram muitas páginas que grande parte das pessoas tinha de saltar. É, portanto, uma maneira simpática de tornar o jornal um pouco mais funcional. A ideia que eu tenho de um jornal é que este é um pouco género supermercado: os produtos que têm menos interesse mas que chamam mais gente estão à porta e temos de atravessar toda uma loja de facultativos até chegar ao que realmente necessitamos.
Mas não estou aqui para criticar a estrutura de um jornal, muito menos a de um supermercado. Acontece que, no rodapé de cerca de cinco notícias sobre Maputo, Moçambique e província de Gaza, encontrava-se uma pequena nota que dizia:

ASSINALA-SE, HOJE, O DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

Sabia que era o Dia Mundial da Música, mas daí a ser o Dia Internacional do Idoso, isso foi novidade para mim.
Dia Internacional do Idoso… isso sim, fez-me pensar. E, como Geografia não é apenas “lê, estuda, avalia e deita fora que não precisas disso para nada”, lembrei-me de uma matéria que dei não há muito tempo, em finais do 10.º ano, que era sobre a condição das camadas idosas em Portugal. Comecei a pensar… e, consequentemente, a crítica começou a surgir.
Li também outros documentos; segundo o Ministério da Segurança Social e do Trabalho, numa compilação intitulada de “100 compromissos para uma política da família”, foquei a minha atenção no compromisso 33:

Combater a exclusão e a solidão dos mais idosos, incentivando e apoiando as famílias que privilegiem a manutenção dos idosos em casa.”

Será que os idosos sabem que hoje é o seu dia? Provavelmente não. Quando é o Dia da criança, há quem lhes ofereça prendas, porque elas pedem. E no dia do idoso? Se eles soubessem? Na certa em imensos idosos a petição seria sempre a mesma, sobretudo nos viúvos: “Leva-me para casa”.
Longe vão os tempos em que os idosos eram vistos como um livro de conhecimentos. Ainda que tenhamos muito de medieval, da antiguidade clássica ainda, a importância dos idosos na sociedade, essa, tem vindo a diminuir. Vistos muitas vezes como um fardo, conheço casos de idosos que foram postos em lares e que nunca receberam uma visita dos familiares, pois há quem tenha a coragem de dar à instituição nomes, moradas e números falsos, nunca podendo ser contactados. Se antes os órfãos eram crianças, cada vez mais são os pais, agora idosos, tornados órfãos…
As reformas, essas, são em alguns casos caracterizadas por extrema desigualdade: dependendo do papel que ocuparam na sociedade em vida activa ou outros aspectos, há idosos que recebem autênticas fortunas, tão boas ou melhores que um ordenado, enquanto que outros sobrevivem com reformas inferiores a um ordenado mínimo.
Hoje, Dia Internacional do Idoso, como foi? Eu não sei, não tenho contacto com idosos, visto que não tenho avós maternos. Mas como terá sido? As pessoas terão sabido? E se souberam? Talvez sim, hoje, aquela senhora tenha recebido a tão esperada visita dos netos e os tenha presenteado com abraços, doces e umas histórias. Mas amanhã, será igual?
Digo isto porque, infelizmente, cada vez mais o ser humano precisa de datas-memória, ou seja, de um dia no ano para se lembrar do que é importante (aqui está a teoria do supermercado: o desnecessário sempre na frente). Mas será preciso haver um Dia Mundial do Não-Fumador para as pessoas se lembrarem dos malefícios do tabaco? Já não o ouviram o suficiente? E será preciso haver um Dia Mundial da Criança para, em todo o mundo, as pessoas e instituições se tornarem subitamente generosas e darem, por exemplo, donativos avultados a campanhas especiais para esse dia? E os outros dias? Por acaso será uma campanha mais generosa num dia por ano que melhorará as condições das crianças com dificuldades em todo o mundo? Do mesmo modo: será mesmo preciso um dia de S. Valentim para, de repente, todos os casais se darem subitamente muito bem e terem tempo para aquele jantar adiado há meses?
Em relação ao Natal, a situação não se difere: decerto, em muitas famílias, as pessoas só se encontram reunidas no Natal. E o Ano Novo também tem que se lhe diga: será mesmo necessário um início de ano para fazer as pessoas pensar do que querem da vida e fazer resoluções que, na maior parte das vezes, não cumprem? É pena, também, que seja preciso um Dia do Livro para, por um dia, se incrementar hábitos de leitura nos portugueses.
Não, não sou contra esta maneira de datação. Pegando no exemplo do Dia do Livro, ainda que faça as pessoas ler, nem que seja por um dia, sempre é melhor que dia nenhum. Quando ao Dia Mundial da Criança, sempre é melhor donativos avultados e campanhas especiais por um dia do que nenhumas e não ajudar nada. Só acho que esses dias não deveriam assinalar coisas grande parte do tempo esquecidas pela população. É o meu ponto de vista.
Num mundo desenvolvido cada vez mais industrializado e o que conta é, não a eficiência, mas a velocidade, não a imaginação, mas a racionalidade, com cada vez mais luxos e menos tempo para os gozar, as pessoas deixaram de ter tempo para si. Num mundo em que as principais prioridades são produzir e inovar, as pessoas deixaram de poder construir e criar. Não exercemos o nosso trabalho, o trabalho é que, no fundo, nos parece exercer a nós. O futuro é a prioridade: preparamos um futuro e vivemos pouco o presente; e esquecemos que esse futuro que preparamos cuidadosamente um dia vai ser presente e, à semelhança de outros “presentes”, vai ser mal vivido. Se assim foi, de que valeu prepará-lo?
Não digo que não pensemos no futuro, mas em conta, peso e medida. Porque é no presente que tudo acontece, não é no futuro. Num mundo cada vez mais dominado pela robótica, vamo-nos tornando também robôs. Daí a invenção destas datas-memória: lembrar, nem que seja por vinte e quatro horas, de que as únicas prioridades não são o produzir e inovar, mas também nos preocuparmos connosco. Preocuparmo-nos connosco não é egoísmo, antes uma maneira solidária de darmos mais aos outros. Como poderemos dar alegria se não formos alegres? Como podemos dar apoio se não formos apoiados? Cada um dá aquilo que tem. É que, às vezes, mais vale um dia bem vivido que uma vida inteira sem interesse.
Dia sem imaginação Comecei a pensar e a crítica começou a surgir. Crítica: apreciação, ou censura. Fechei o jornal e a crítica está feita.

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