domingo, 27 de janeiro de 2008

Mozart, 251 anos

Faz hoje 251 anos que, na cidade austríaca de Salzburgo, nascia um dos maiores génios da História da Arte: Johann Chrisostomus Wolfgangus Teophilus Mozart.
Desde cedo revelou ser um prodígio quando, com apenas 4 anos, fez a sua primeira composição. A sua primeira ópera foi escrita quando este contava também apenas 12 anos.
Toda a vida procurou trabalhar por conta própria (porque era uma época em que os compositores tinham a mesma importância que um empregado, sempre sujeitos a obedecer a um patrono rico), o que não era bem visto e serviu de base para os seus problemas económicos (ainda que, no início, tivesse tido um período relativamente próspero).
A "Flauta mágica" foi a última obra que apresentaria em vida, ainda que se sguisse o famoso Requiem, inacabado.
Morreu com apenas 35 anos, no dia 5 de Dezembro.

Como já disse anteriormente, Mozart foi um dos maiores génios da História da Arte e, quiçá, mesmo o maior da História da Música.
Pode-se preferir Beethoven, Schubert, Liszt ou mesmo Bach, mas é incontestável que Mozart teve um papel crucial na Música europeia. Creio que, se Mozart não tivesse existido, a música de hoje seria muito dferente (é de salientar que todas os géneros musicais hoje considerados "modernos" evoluíram a partir da música clássica. Já outro génio, Albert Einstein, dizia nas suas orações "Creio em Deus, Mozart e Beethoven".
Como música de fundo deixo-vos, como já deu para perceber, uma obra deste grande compositor ("Eine kleine Nachtmusik", ou "Pequena música nocturna".
Mas de que me vale deixá-la assim?

Não pretendo deixar esta música, ainda que apenas uma, por uma questão estética.
Está bem que todos vocês já ouviram falar o nome de Mozart. Se calhar, até já ouviram alguma coisa.
Mas fora isso: quantos já o ouviram verdadeiramente, não com ouvidos de ouvir, mas com ouvidos de ler? Sim, porque a música é a escrita do coração.
Porque podemos tirar sempre um pouco de poesia, seja de música for. A música não é apenas música; é um poema de sons no qual o seu poeta escreve como qualquer outro poeta de palavras, ou poeta de tintas, se o papel a utilizar for uma tela…
Mas, além dos poetas de sons, poetas de palavras ou poetas de tintas, há os que não são poetas. Mas, mesmo esses, têm o seu lado poético e é esse lado que predomina em tudo quanto fazem,tudo o quanto dizem ou tudo o quanto ouvem. Cada qual faz as coisas de acordo com o seu “poema”: pode ser mais ou menos triste, ou alegre e feliz… Aquilo que conseguimos fazer ou expressar é a nossa poesia.

Música: a linguagem universal que todos podemos entender, independentemente de que nacionalidade formos… Podemos defini-la assim. E, se assim é, gostava que parassem para ouvir com o coração a voz deste grande poeta que foi Mozart.
Já outro grande poeta musical, Robert Schumann, afirmou:

"Os sons estão para além das palavras."

Parabéns, Mozart!

sábado, 26 de janeiro de 2008

O Diabo do século XXI

Sim, sei que estou a publicar mesagens com muita frequência. Mas se tenho as ideias em alta acho que devo aproveitar. Aproveitar o que consigo fazer.
Para descontrair e a propósito disso, hoje tava na aula de Música e a professora começou a queixar-se de que a nossa turma devia estar na infantil e que nos compreendia muito bem, nós, como simples mortais e como está cientificamente provado, apenas usamos 10% do cérebro e que, só por essa limitação, nos dava um desconto. Ao que o Pedro Vieira (que no que toca a assuntos de língua afiada é craque) afirmou que, como simples mortal que a professora também era, apenas usava 10% do cérebro ou menos ainda, que varia de pessoa para pessoa. Ao que a professora respondeu "Sim, mas estou prestes a usar 11%, no dia em que te puser na rua. Sabes, se apenas uso 10% do cérebro, é por causa das companhias." Enfim...!...

Mas quanto ao que eu estava a dizer...

Acho que este exemplo se enquadra no que se passou na aula de Música: vou passar a usar o cérebro mais vezes e a prova está aqui... nem que suba os 10% mais umas décimas...


O assunto de hoje pode parecer estranho.

O Diabo do século XXI. Não um Diabo qualquer.

Mas existem vários diabos?


Os católicos acreditam veemente na existência de um ser malígno contrário a Deus e que é responsável pela maldade e dor no mundo. Mas daí a referirem mais do que um...

Quando era pequena, sim, acreditava nessa figura normalmente representada com pele vermelha, cauda, pés de cabra e dois cornos.

Mas fui crescendo... e, aos poucos, fui-me apercebendo que o que está em causa não é a existência de Deus e do Diabo (que, para mim, não existe), mas sim a existência de factores malígnos e benignos que resultam da vontade humana e não divina. Aliás, se fosse vontade divina, isso significaria que Deus interferia no livre-arbítrio humano, quando o criou livre de escolha...

Lembro-me de ter 10 anos e de me encontrar numa das poucas missas a que vou num ano (sim, porque o sentido da missa já se perdeu para mim, mais do que agradecer, as pessoas vão para pedir). Nunca esqueci essa missa devido a um ponto tocado pelo padre Rui: Diabo é uma palavra de origem hebraica que significa "dois lados", ou seja, é o contrário de União. Que o Diabo não existe como figura, mas apenas como palavra no dicionário...

Durante os cinco anos de vida seguintes, de vez em quando, eu lembrava-me dessa afirmação. E hoje posso dizer, convicta que, de facto, o padre Rui tem razão.

O Diabo não existe. O que existe é liberdade de escolha. Deus dá-nos essa liberdade que pode, pura e simplesmente, ser contrariada., Agora, que o ser humano tenha inventado uma figura maligna para justificar todas as suas faltas já não é comigo...

Então, qual é o Diabo do século XXI?

Tendo em conta que estamos num mundo em constante mudança e que o sentido de Diabo não é o mesmo que o da era medieval, Diabo pode ser tudo. Tudo o que contribua para o mal-estar no mundo e responsável pela quebra da União é o Diabo. E é de origem puramente humana...

Hoje em dia, o que está em questão já não é Diabo no singular, mas um conjunto de vários Diabos, porque é-se Diabo cada vez que optamos por fazer mal numa parcela do Mundo.

Assim sendo (e à semelhança da personagem da imagem), rezar-mos a pedir que nos afaste do Diabo não chega, porque este hoje em dia multiplica-se tanto, que seria necessário mencionar todos os Diabos que pudéssemos nas nossas orações. Mas concordo com o termo no singular, afinal, até nos poupa trabalho nesse aspecto...

O Diabo do século XXI pode ser qualquer coisa.

Não é que eu acredite mas talvez o Diabo até exista mesmo como figura. Assim sendo, podia explicar-se toda a maldade: a Humanidade encontra-se de tal modo fraca que se deixa dominar.

Mas a culpada da maldade é a própria Humanidade...


Talvez a Humanidade seja tão fraca de forma a chegar ao ponto de não perceber que é um perigo para si mesma...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

"Antes de falares de mim, olha para ti primeiro!"

Para começar, deixem-me começar com a chave da interpretação da imagem para quem não percebeu. Para isso, basta ler o balão de fala e olhar os chapéus.


Não, não estou aqui para falar da homossexualidade, se bem que esta pode ser inserida neste assunto. Antes venho falar do fraco vício que o specimen humano tem de criticar os outros sem olhar a sua própria realidade.

Todos nós somos alvo de intrigas, umas melhores, outras piores. E nem sempre os intriguistas param para pensar em si e no que são também. Deixem-me dar-vos um exemplo.

É comum os jovens de hoje tenderem a mudar os seus gostos e preferências em função de determinado grupo de gente a que querem pertencer. E quem não quer também pertencer a um grupo, sentir que há gente connosco?

O problema reside no facto de nos enganarmos a nós próprios e adoptarmos outro estilo de vida que, na maior parte das vezes, não diz connosco. Revelamos ser inseguros e, para o fazermos, é porque não gostamos verdadeiramente de nós e somos, de certo modo, uns mentirosos. E ninguém gosta de gente que mente...

Mas, além de metir aos outros, estamos a mentir a nós também. Quem se sentirá bem numa pele que não a sua?

Agora, começando a entrar no assunto da intriga...

Muitas vezes há aquele que são alvo de gozo porque têm gostos diferentes. Mas, muitas vezes também, os "gozões" até podem ter os mesmos gostos que essas pessoas, no entanto, viram-se obrigados a escondê-los. Isso é estúpido e, pegando na aula de Filosofia, completamente imoral.

Não podemos exigir dos outros ou condenar os outros por algo que também fazemos, mas que somos obrigados a esconder, pegando no exemplo da moral, que vai contra os nossos princípios.

Aliás a minha teoria é outra.

Creio que as pessoas que gozam outras é porque se vêm ao espelho nessas mesmas pessoas; vêem-se iguais a elas, mas com uma diferença: é que as outras não mudaram a sua maneira de ser para satisfazer os caprichos de uma sociedade selectiva. Aqueles que gozam devem sentir-se, perante essas pessoas, uns fracos de vontade e amor-próprio. Essas pessoas são o espelho do que elas não são. E isso é demasiado...

Quantas vezes vemos gente que critica os outros quando, na verdade, arde de vontade para ser como eles!... Mas, tal como a fábula da Raposa e das Uvas, às vezes, mais vale desdenhar daquilo que não podemos ter ou somos, ainda que quiséssemos. Deixo-vos uma fábula, não a "Raposa e as Uvas", mas outra igualmente conhecida e que trata disso mesmo, todos somos diferentes e não devemos ir contra a Natureza.



Uma rã viu um boi

que lhe pareceu de bom tamanho.

Ela, não mais gorda que um ovo,

invejosa, cresceu, inchou

e tudo fez para se igualar ao animal

- Olha bem, minha amiga,

como estou? Diz-me,

estou bonita assim?

- Não!

- E agora, já sou do tamanho do boi?

- inda não!

- Que tal, estou melhor?

- Ainda falta muito, precisas de crescer mais.



E foi o que ela fez.

Tanto inchou que estourou.



O mundo está cheio de gente

que não é mais inteligente que a rã:

todos os burgueses querem construir

como os grandes senhores.

Todos os pequenos príncipes têm embaixadores.

Todos os marqueses querem ter pajens.




quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Prémio Nobel da Paz para o... Futebol?

O jogo de hoje inspirou-me. A vitória do Colégio de Nossa Senhora da Bonança no voleibol deu-me inspiração para um assunto. E decidi falar de desporto.
Prémio Nobel da Paz para o... Futebol?


Sei que parece brincadeira mas, efectivamente, foi o que esteve para acontecer no ano 2001. Segundo o autor da carta de nomeação para o Comité Norueguês do Nobel, em Oslo, Lords Gustafsson, o futebol promove a harmonia e a compreensão entre as nações... Por sua vez, o responsável da Liga, Valentim Loureiro, afirmou:




"O futebol é uma fonte de aproximação entre os povos, países e continentes, independentemente das suas raças, credos e religiões e das línguas que possom falar."




Agora é a parte em que me apetece rir um bocadinho! Sem ofensa para os amantes de desporto, mas o futebol é o desporto mais bélico que conheço! Está bem que promova a aproximação entre nações, mas esta é quase sempre física, se é que percebem o que quero dizer... sobretudo à saída dos estádios...


O futebol, creio, é o desporto com maior número de adeptos (se estiver enganada, corrijam-me, mas não sou muito sabedora destas coisas do desporto). Assim sendo, é horrível que um desporto com tal reputação dê tão mau exemplo!


Mais do que um jogo, está em causa um momento de lazer (sim, porque, para mim, desportos são formas de lazer). Admira-me é que as pessoas o levem tão a sério, de forma a tornar o futebol quase tão importante como um assunto pessoal... e tenham certos comportamentos animalescos, de expoente físico à saída do estádio e de expoente psicológio durante o jogo...


Prémio Nobel da Paz para o Futebol... gozo de quem teve tal ideia!


Que haja aproximação cultural entre os jogadores, eu acredito, mas que haja entre os adeptos, já é outra história.


Não duvido da possbilidade que o futebol oferece para a aproximação entre nações... e creio que esta seja possível, mas a culpa também é das pessoas, que não percebem a verdadeira essência do estar com gentes de outras regiões... Que, mais que mostrarmos o nosso orgulho patriota e nacionalismo, devíamos mostrar o nosso acolhimento e tolerância para com os outros, que só dá boa figura... e que, a perder, ganha-se uma lição para a Vida...

domingo, 20 de janeiro de 2008

A justiça – valor universal e intemporal

Tenho andado muito fisolófica. E foi devido a uma aula de Português e de Filosofia sobre os valores humanos que me ocorreu falar sobre a Justiça.
É comum, nos tempos que correm e nas situações em que vivemos, ouvirmos várias vezes a palavra justiça para tudo o que acontece (e o mesmo com injustiça). Parece que, de repente, o Mundo se voltou para um ideal de justiça nunca antes concebido, porque, acontece, ninguém está bem com a vida que tem: somos capazes, hoje, de pensar mal das pessoas que nos rebocam o automóvel quando sabemos muito bem que a culpa é nossa, de nos queixarmos da nota de um teste quando não fizemos nada por ela, de criticarmos os nossos colegas de trabalhos de grupo quando sabíamos muito bem que podíamos ter feito melhor… e terminamos cada citação com a célebre frase “é injusto”. O quê, é esse o vosso ideal de justiça? Já ouvi quem se queixasse que foi injusto um polícia lhe ter passado uma multa. Mas então porque deixou o automóvel mal estacionado? Não, foi o polícia que o estacionou! Ridículo! É esse o vosso ideal de justiça?
Também já reparei que as pessoas só clamam por justiça quando a conseguem pôr a seu favor. Se a justiça for em favor do outro, cuidado que aí já nem ousamos dizer a palavra. E depois lutamos por um mundo mais justo e queixamo-nos das injustiças das outras pessoas que, a meu ver, são as mesmas que fazemos sem darmos por isso…
Tenho uma ideia péssima da justiça da sociedade actual.
Aliás, acho graça, que as pessoas clamem por justiça sem saber muito bem o que quer dizer…
Justiça deriva da palavra latina justitia, que se baseava na igualdade. Justiça é igualdade.
Sempre que ouço esta palavra, é normal que me venha à cabeça uma balança. Mas, se justiça é igualdade, ambos os pratos da balança deviam estar em equilíbrio e não a favorecer mais uma parte que outra… ou não será assim?
Note-se: equilíbrio. Isso não quer dizer que ambos os pratos tenham de ter o mesmo conteúdo a fim de pesar igual porque, mesmo com objectos diferentes, com quantidades bem doseadas, podemos equilibrar uma balança. Isto não é novidade para ninguém.
Então, eu pergunto: a justiça existe?
A justiça está ligada à igualdade. Todos são iguais, diz ela…
Mas, pegando no exemplo da reforma (que, como é sabido, aumentou uns míseros oitenta e sete cêntimos ou lá o que é mas já nos devemos dar por muito contentes porque, enfim, não é algo que aconteça com facilidade todos os dias, um aumento). Sim, é justo que todos recebam a mesma reforma. Mas note-se: nem todos têm os mesmos rendimentos. Seria mais justo que se desse a reforma em função dos rendimentos que possuem para ficarem, pelo menos economicamente, todos “iguais”, do que dar uma reforma igual a pobres e ricos para, no bolso, ficarem à mesma “todos diferentes”. A igualdade não se vê nos meios que se tomam para a conseguir, mas nas consequências de meios diferentes para se tornarem iguais…
Espero não ter confundido o cérebro de ninguém com todo este palavreado que, apesar de tudo, faz muito sentido para mim…
Mas, se virmos bem a justiça é uma entidade abstracta. Cada qual vê a justiça como lhe convém. Tomemos como exemplo um jogo de futebol.
Se um árbitro marca uma falta bem marcada, a equipa adversária protesta logo dizendo que não existe falta “que é injusto”, quando o árbitro tem os olhos na cara para alguma coisa e foi falta mesmo! Porquê? Porque à equipa adversária não convém haver faltas! Porque a gente está mais atenta aos erros dos outros que aos nossos, porque nos é conveniente. A Natureza humana é assim e não creio que haja muita coisa a fazer, a não ser começar por entender que ninguém é perfeito e que erros, todos cometem. Já é meio caminho andado para um mundo mais justo…
Mas eu torno a perguntar: depois de tanto argumento, será correcto dizer que a justiça existe? Terá uma forma definida, um conceito único?
Isso depende.
Acho que nestes assuntos do que é justo ou injusto bem podíamos pegar num célebre provérbio que todos conhecemos e substituir uma palavra por outra, a fim de ficar que, tal como a beleza, também “a justiça está nos olhos de quem a vê”. E todos concordamos que, no fundo, até que é verdade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Carta a alguién II

Esta noche yo he tomado la talla del Universo. Y, mientras escuchaba el bater de mi corazón, llorava mis lagrimas de dolor por la tierra... Pero eso que vosotros llamáis de lluvia es solamente mi corazón que cae en la calle y que va, calmamente, a camino del mar. E ya no tengo corazón.
Me han tirado todo! Ahora, yo no puedo caminar a la mi voluntad. Yo no puedo ver más. Yo no puedo escribir más lo que quiero y tampoco cerrar los ojos. Yo no puedo soñar más y no puedo tener corazón.

Entonces, yo pregunto: que puedo hacer? Hay algo que me estea bueno de hacer? Pero o qué? Ni siquiera puedo tener corazón... y no hay como vivir sin corazón...

Pero aunque no me sea bueno, yo hago todo a lo mismo... y creo que es por esso que llove...

Para qué andar más? Para qué andar se puedo te encontrar? Para que ver, se no te quiero ver? No puedo escribir y creo que este es un ejemplo de la razón... tampoco puedo cerrar los ojos, porque, cuando los cierro, es cuando te veo mejor... No puedo soñar, porque te quedas siempre en mi cabeza... No puedo tener corazón, porque terte dentro de el me hace sufrir...

Pero es mejor así... no hay como herir las personas que me gustan...

Pero por cuanto tempo más teré de reír cuando solamente quiero llorar?

Cada sueño que yo tengo es, para mí, un pesadelo...

Por cuantas veces me sera necesario quedar en la lluvia y por cuanto tiempo?

Por cuantas veces me sera necesario reír mientras lloro?

Cree, si pudiera yo traeria el Sol del cielo... pero tal no me es posible... pero para que quiero yo el Sol del cielo? No necesito el Sol mientras existas...

Pero no puedo más... no puedo morir todos los días... estoy cansado de morir!

Solo sé que eres la razón para que yo me levante por la mañana. Solo sé que eres la razón por que yo camino y cierro los ojos todos os días... Mismo que mis sueños contigo sean pesadelos, eres la razón por que me gusta soñar... Y ere incluso la razón por que yo consigo tener lo que no tengo de todo, que es mi corazón... Y eres la razón por que yo muero todos los días...

No sé que es necesario para dejar de sufrir...

Porque yo existo! Existo y soy persona! Yo soy tan real como las estrellas del cielo. Yo existo y estoy aquí, señora, para os testimoniar lo que me hace vivo...

Si pudiera, yo me quedaría toda la noche diciendo vuestro nombre...

Y, pobre de mí, necesito tanto para os decir que os amo...
Roberto Calderón

Felicidade

No meio do plaino abandonado
Em urros deitei contas à Vida
Às tantas chorei, já estava dorida,
A voz rouca de tanto ter gritado.

Nisto encoberta, clara e difusa
Oiço uma voz do céu que se abria
Vi uma imagem que então descia
E que em altos berros me grita e acusa:

“Desgraçado poeta, por que choras?
Mas não entendes que é esse viver
Que te atraiçoa e te faz sofrer?

Acorda, poeta, por que te demoras?
Muda então, tenta perceber:
Podes ser feliz, é só querer.”

domingo, 13 de janeiro de 2008

Saudade

Sinto saudades de vosso sorriso
Mas sei que um dia, senhora, em tarde amena
Vos encontrarei calma, doce, serena,
Abrindo-me as portas do Paraíso…

Mas p’ra meu mal vos haveis apartado
Perdestes do rosto os lábios rosados
Vossos lindo olhos agora fechados
Cabelos sem cor, coração parado.

Não quero a Vida, escolho a Morte!
Não quero ter de viver esta sorte
De ter de aguentar algo tão atroz!

Quero morrer já, ver vosso olhar terno
Serei punido, mas creio o Inferno
Menos doloroso que uma Vida sem vós…

sábado, 12 de janeiro de 2008

A tragédia grega

Olá!
Espero que não seja maçador... mas hoje apetece-me abordar um assunto de História. E ocorreu-me falar da tragédia grega.
A tragédia grega surgiu num período evolutivo. É uma altura em que certas características (ditas arcaicas) desaparecem ou evoluem para formas totalmente novas.
Foi graças a Péricles, deputado e estadista grego, que a Grécia atingiu todo o seu esplendor cultural, especialmente a cidade de Atenas. Esta época de ouro da cultura grega manifestou-se na música, na escultura e, especialmente, na arquitectura, que nos é mostrada através dos dados arqueológicos que possuímos da cidade de Atenas.
Podemos dizer que a tragédia foi o ponto máximo de desenvolvimento da música grega. Foi um sistema bastante elaborado para a altura: podiater até 15 cantores, músicos acompanhadores e 3 actores. As intervenções destes últimos podiam ser faladas, faladas com fundo musical e cantadas. O texto era em verso. Os actores eram apenas homens e vestiam túnica e botas altas, roupa típica de cerimónias religiosas.
A tragédia, além de ter funções de entretenimento, também era inserida em celebrações religiosas como, por exemplo, as Grandes Dionisíacas em honra do deus Dionísio, deus do vinho, da folia, da alegria e do prazer, associado também ao teatro.

A estrela

Não nasceu para saber. Às vezes o conhecer magoa.



Uma noite o mar subiu e não poupou a pequena casinha costeira pegada a um farol azul. E levou consigo o pequeno bercinho de folhos.
O bercinho andou à deriva durante toda a noite. E, quem sabe, a criança dentro dele sonhava encontrar-se num pequeno barquinho balouçante nas ondas do mar.
Cresceu numa casa que pensava ser a sua com uma senhora que pensava ser sua mãe. Não foi à escola. Escusavam perguntar-lhe de línguas ou matemáticas ou o quer que fosse. Mas quando se tratava do mar parecia reunir em si todo o saber do mundo.
A sua curiosidade parecia voltar-se para o mar e o céu. Para ele, não havia a terra.
- O que são aqueles pontinhos brilhantes que aparecem quando o céu está escuro?
E a senhora respondia que eram estrelas.
- O que são estrelas?
E lá lhe era explicado com muita calma que as pessoas bondosas, ao fim de algum tempo e ao contrário das outras pessoas que morriam, iam ocupar um lugar no céu. E eram as estrelas.
Uma vez foi assistir à partida de quatro navios. Bem os esperou de volta, mas nunca mais voltaram. Indagou porquê e para onde é que o mar os tinha levado. E a senhora, pacientemente, respondeu:
- Foram para onde tinham de ir.
- E para onde tinham de ir?
- Lembras-te do passarinho que guardaste até aprender a voar? Ao fim de algum tempo, voltou para o ninho onde nasceu sem que antes o tivesse visto. A Natureza é assim.
- E o que tem o mar a ver com isso?


- O mar é uma estrada tipo a que passamos todos os dias para ir à vila trazer pão. A gente pode atravessá-lo. Mas é muito perigoso.
- É possível conseguir atravessá-lo?
- Depende de aonde queres chegar.
E a senhora tornou:
- O mar, muitas vezes, leva as pessoas de volta para casa…


Cresceu mais ainda. Já jovem gostava de olhar as estrelas.
- Já não tens idade para olhar as estrelas…
Uma noite, o mar rugiu mais do que nunca. O vento Sul agitava os vidros da janela com força. Partiu o trinco e a janela abriu. O rapaz levantou-se, vestiu um casaco e saiu. E, por entre ruídos do mar e do vento, ele viu-a.
Hipnotizante e tentadora, o céu ostentava a estrela mais brilhante que ele alguma vez tinha visto.
O rapaz, sempre com os olhos postos na estrela, entrou e voltou a deitar-se.
Mas não conseguia dormir. Volta e meia, todas as noites, encontrava-se à janela, a olhá-la…
E ela lá em cima, convidativa, sempre a chamá-lo…
Sempre a chamá-lo…
E ele ouvia-a dizer o seu nome…
Cada vez mais alto…
E a estrela continuava a chamar…
E ele era tentado pela estrela…
E ele pensava “Deve ter sido uma pessoa muito boa para brilhar tanto…”




Uma noite, não aguentou mais. Esperou que a senhora dormisse, levantou-se, vestiu-se e saiu para a praia. O vento rugia… O mar parecia querer rebentar…




Com habilidade, soltou as cordas de um dos barcos atracados. Abriu as velas, pôs-se ao leme e o barquinho zarpou…
Deixou de ver a costa… Mas continuava a ver a estrela… E seguiu na sua direcção…
De repente, o mar enfureceu-se… Pôde constatá-lo quando viu surgir, atrás de si, uma onda enorme, prestes a derrubar o barco… Com pressa, tentou desviar-se, mas em vão… A onda caiu pesadamente em cima dele e do barquinho…
Rapaz e barco voltaram a endireitar-se, quando vêm outra onda… desta vez, foram mais rápidos… mas o mar não se detinha…
As horas passavam devagar… E vêem-se trovões…
E o barquinho vai agitado sobre as águas do mar… No entanto, desafiando a tempestade, o rapaz mantém-se ao leme…
Estão a chegar ao centro da tempestade… ao longe, os relâmpagos mergulham com um estrondo no oceano e surgem ondas enormes… Mas nem por isso o barco pára…
De repente, acontece o impensável… Um relâmpago luminoso como a estrela que se seguia cai mesmo em cima do barco…




Aquando a alvorada, finalmente acordou… Estava no mar, o mastro caído, as velas queimadas… E, no céu, teimando não desaparecer e coberta pelo nevoeiro, estava a estrela… Que parecia mais próxima…
O rapaz levanta-se, arranja umas velas provisórias e agarra o leme com firmeza… E o barco recomeça a sua viagem…
O rapaz olha a estrela no céu… e a estrela está cada vez mais perto… E, quanto mais avançava, mais o nevoeiro desaparecia…
Por fim, avistou algo… Ao longe, erguia-se um farol azul… ao lado, uma pequena e velha casinha costeira…
E a estrela desapareceu…

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Página de diário ficcional

O que é o tempo?
Sou uma guardadora de memórias. Sou da idade do tempo, que não tem idade nenhuma. E para que servem as memórias? Será que a gente esquece porque a razão está toda no cérebro ou porque não queremos esquecer? E será possível uma pessoa que tiver passado por situações horríveis não querer esquecer? Nós controlamos o cérebro ou ele é que nos controla a nós? Se nós controlássemos o cérebro, conseguíamos apagar algumas memórias…
E de que me lembro eu? Terei memória suficiente? Serei eu uma memória para algo de que já não me lembro?
Hoje pensei ter visto o que não vi. E quando vi aquilo que pensava não ter visto, aquilo que eu, na verdade, não vi, desapareceu para eu ver o que era.
Por que é que fiquei triste?
É tão mau quando a Esperança morre!... Dizem que o Homem não vive sem Esperança. Muita gente que diz ter perdido a Esperança está viva. A Esperança morre? Talvez apenas vivamos sem ela…
Por que é que a menina perguntou o meu nome? Porque não me conhecia. Esta é, de facto, uma pergunta simples com uma resposta óbvia.
E o que é uma pergunta simples? Será algo de resposta pouco difícil? Não creio. Existem perguntas simples com respostas difíceis. Então, o que é simples? É o que eu não sou. O que são perguntas simples? São o que eu não faço.
O que é o tempo? Aqui temos uma resposta fácil para uma pergunta difícil. O tempo surgiu na imaginação do Homem para delimitar as coisas. É mais fácil observar na sua totalidade o que é limitado do que o que for ilimitado. O que é a eternidade? É a ausência de tempo. A eternidade existe? Sim! O tempo existe? O tempo, como já disse, foi criado pelo Homem para complicar o que era simples. Não será mais fácil referirmo-nos a apenas uma eternidade do que a dezenas de tempos? O tempo é uma invenção? Sim. As invenções existem? As invenções existem na medida em que o Homem as cria. O Homem cria tempo? Não. Então, o tempo existe?
O que é o tempo? O tempo sou eu. O tempo existe? Não. Então e eu, existo?

O Sonho…

A mulher entrou na sala. Sentou-se. Os seus dedos percorreram, ágeis, as teclas brancas e pretas de um piano escuro. Com o seu sucesso pendente nas bocas dos críticos, foi impossível dizer se correra bem ou mal. Voltaria lá, ao fim de duas semanas.
De facto, na segunda vez, cometeu um ligeiro engano. Não fora coisa grave. Erros, no fim de contas, todos cometemos. A opinião dos críticos foi mais positiva. Era um bom sinal.
Depois de uma noite de êxito aparente, despediu-se e, calmamente, entrou em casa. Assim, sim, era bela a vida! Levou o gato consigo, atirou a roupa para um canto do quarto, vestiu a primeira camisa que encontrou e deitou-se na cama.

Voltou nessa mesma noite. Não que tivesse algo agendado. Mas também não se lembrava de não o ter.
Entrou na sala como de costume. Tudo correu como de costume. Por fim, levantou-se, agradeceu também como de costume e cedeu o seu lugar.
Mas não conseguiu ficar para assistir. Estava num dia de menos paciência. Esperou pelos aplausos e saiu, silenciosa, da sala.
O corredor estava deserto. Decerto, daí a alguns minutos, teria de voltar à sala para dar umas palavrinhas.
Nem teve tempo de pensar. Antes de o ter feito, já uma lâmina fria e aguçada lhe tinha aberto o peito.

Quando acordou, encontrava-se no chão. Teria sido apenas um susto?
Voltou para a sala. Ouviu chamarem o seu nome e encaminhou-se para a frente.
Oh, quanta monstruosidade! Alguém lhe havia aberto o peito e arrancado o coração!
Estática, apavorada, em pé, não se sabendo viva ou morta, a mulher olhava para o grande buraco no seu peito, todo esventrado e remexidas as entranhas. Das veias rotas saíam vários esguichos de sangue que tingiam de vermelho as faces pálidas dos presentes…

Acordou, estremunhada, branca como a parede. Estava em casa, na cama. O gato a seus pés. Num canto, a roupa que havia atirado. Com um suspiro de alívio, colocou a mão direita sobre o coração. Não estava lá.

O avião

No início, era só um papel. Depois, começou a ganhar forma. E, nas mãos da criança, surgiu um avião.
Levou-o para dentro de casa e brincava com ele. Mas os pais ralharam, dizendo que se era para estragar alguma coisa, que fosse lá para fora.
A criança e o avião foram lá para fora. De vez em quando a criança tinha de apanhar o avião no meio da estrada. Uma senhora chamou-os à atenção dizendo que ali não era para brincar.
Foram para o jardim. A criança voltou a brincar com o avião. Mas este foi parar dentro de casa de um homem novo que lho devolveu, dizendo que tinha sido um desperdício de papel e que não incomodasse as pessoas. Até que uma senhora idosa se lembrou de dizer à criança que fosse para o espaço aberto à beira do regato.
E a criança foi. Recomeçou a brincadeira com o avião. Parecia que nada podia interromper aquele momento de alegria.
Mas, no último voo, o avião mudou de direcção e caiu nas águas do regato. A criança viu o papel mergulhar e desaparecer… E começou a chorar…
Uma jovem rapariga, que passeava com o cão, passou e, vendo uma criança a chorar, abeirou-se. E perguntou:
- Então… por que choras?
A criança, com voz trémula, respondeu:
- O meu avião… caiu na água… desapareceu…
- Vem cá.
E pegou na criança ao colo, enxugando-lhe as lágrimas. O cão sentou-se e, ao fim de um bocejo, deitou a cabeça no colo da criança.
- Não chores mais – pareciam dizer os olhos brilhantes do cão que, via-se, entristecera-se ao ver a criança a chorar.
A jovem rapariga passou-lhe a mão pela cabeça e perguntou de novo:
- Dizes tu que desapareceu?
- Sim… eu vi – respondeu a criança chorosa.
Ao que a jovem rapariga tornou:
- Pois fica a saber que eu estou a ver o teu avião lá ao fundo do regato!...
- Como é possível? – questionou a criança, erguendo a cabeça.
- O teu avião não desapareceu; antes, como já conheceu todo o céu, achou que tinha chegado a altura de conhecer todo o mar. E, para isso, transformou-se num barquinho…
Subitamente, a criança parou de chorar.
- Olha ele lá ao fundo – disse a jovem rapariga – está a despedir-se… Vai lá ver se o apanhas!...
Então, a criança levantou-se, mais o cão que a seguiu, desta vez com a língua de fora e a cauda a abanar de contente.
A criança aproximou-se do regato. No rosto, um sorriso de alegria. E, acenando com a mão para o horizonte que se perdia na direcção do Sol, disse bem alto:
- Adeus, adeus, faz boa viagem! Adeus, adeus, até ao mar!...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O menino que gostava de escrever


Era uma vez um menino que gostava muito de escrever. Nas suas histórias, todas as suas personagens tinham sempre finais muito bonitos e as palavras que usava para contar uma história tornavam-na encantadora, por mais simples que fosse.
Todos admiravam muito o menino que gostava de escrever.

Um dia, a professora encarregou os alunos de escrever uma redacção sobre um tema actual e realista. Imediatamente, todos os olhos pousaram sobre o menino, interrogando-se sobre o que iria sair daquela cabecinha tão pequena.
Ao chegar a casa, o menino começou a trabalhar na redacção.
- Uma composição sobre um tema actual e realista?
Depois de muito pensar, pegou numa folha de papel lisa e começou a escrever.

Era a história de um velhinho que morava numa cabana no meio da neve, num planeta que ainda ninguém havia descoberto e que tinha como única companhia os seus chinelos falantes.

No dia seguinte, as composições foram entregues à professora que, na tarde do mesmo dia, as entregou corrigidas.
Havia temas de todo o género: desde histórias com crianças paralíticas, ou que eram órfãs ou que viviam com pessoas que as tratavam muito mal. As notas foram bastante altas. Mas toda a turma se espantou quando devolveram ao menino a sua composição com um “Suficiente” escrito em letras vermelhas e grossas.
Os colegas, claro, não perceberam! Tinha sido a nota mais baixa! A professora, então, chamou-o à frente da sala:
- Gabriel, chega cá à frente…
O menino foi à frente do quadro, a medo. Os olhos dos colegas estavam, como sempre, postos em cima dele. A professora tornou:
- Lembras-te, com certeza, dos critérios pedidos para a elaboração da tua composição, não te lembras?
- Sim, senhora professora.
- Quais eram eles?
- A história deveria ser actual e bem realista.
- Ora acontece que a tua história não é actual, nem tão pouco realista.
Os colegas olharam para o menino com interesse.
- Gabriel, diz-me uma coisa, desde quando é que os chinelos falam?
A turma rompeu em gargalhadas. O menino respondeu:
- Falam na minha imaginação.
- Imaginação e realidade não são a mesma coisa…
- Isso é uma grande mentira! Antes de algo existir é preciso que seja imaginado!
A professora, que não gostou que a contrariassem, disse então:
- Não tenho muito a certeza de que um dia venham a existir chinelos falantes…
Os colegas riram de novo. O menino baixou a cabeça.
- E diz-me uma coisa: não me parece muito actual, muito menos real, um velhinho a viver numa cabana no meio da neve num planeta que ainda não foi descoberto. Isso parece-te verdade?
Mais gargalhadas abanaram a sala. O menino estava quase a chorar, mais ainda disse:
- Mas quantos velhinhos não vivem nas suas casas no meio da neve tendo como única companhia os seus chinelos?
O olhar da professora ficou subitamente carregado de cólera, como se o menino tivesse descoberto algo que lhe dizia respeito. E mandou-o sentar, com um recado para os pais por indisciplina. “Ousou responder a um superior” lia-se em letras bem visíveis, igualmente vermelhas.

Durante a noite o menino chorou. Mas seria mentira o facto de os chinelos não falarem?
Mas o certo é que, vendo-o tão abatido, os seus chinelos começaram a cochichar. O menino ainda levantou a cabeça mas, lembrando-se da aula e do sermão da professora, murmurou:
- Os chinelos não falam…
Deitou a cabeça na almofada e adormeceu.

Carta possível

Hoje de manhã procurei. Espreitei em todas as ruas sem resultado; vasculhei todos os edifícios e nada encontrei; entrei em todas as salas, mas o resultado foi o mesmo.
Acabou a manhã… Mas onde encontrar?
De tarde interroguei as pessoas. Mas ninguém me soube dar informações exactas…
Dantes, era fácil: bastava sentar-me nas escadas, olhar pelas janelas ou acomodar-me em baixo delas… e pensar que, nessa altura, já achava difícil…
Por fim acabou a tarde.
À noite, olhei para as estrelas. Afinal, nunca se sabe!... Mas as estrelas são tantas e estão tão longe! Com apenas dois olhos não consegui procurar em todas as estrelas.
Acordei, em suma, profundamente triste! Em passo lento, subi as escadas de madeira escura.
Entrei na sala às escuras e escancarei a janela, para poder olhar melhor as nuvens do céu e ouvir a chuva a cair no jardim. Sentida comigo mesma, plena de remorso, arrastei o banco para trás e sentei-me. Coloquei as mãos no teclado e os meus dedos deslizaram nas teclas brancas e pretas. Como ruído de fundo, o granizo misturado com a chuva que caía na rua.
Toquei repetidamente a mesma música, até que, finalmente, compreendi. E, na minha boca, senti um sorriso.
Afinal, não era preciso procurar-te tão longe; posso encontrar-te toda a vez que os meus dedos deslizarem nas teclas de um piano.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

E uma luz acesa rodeada de escuridão ainda mais nos fala de Ti

Senhor Jesus
tu disseste de Ti mesmo

que eras a Luz

que vinha a este Mundo

temos no meio de nós

uma luz

para nós

ela é a Tua imagem

ela é o Teu símbolo

e uma luz acesa

rodeada de escuridão

ainda mais nos fala de Ti

ensina-nos a sermos abertos

ensina-nos a Tua doutrina

que posta em prática

arde,

e ilumina tudo à sua volta


...


Para que possamos viver

na tua doutrina...


E uma luz acesa

rodeada de escuridão

ainda mais nos fala de Ti.


Quem sou eu? Tenho de descobrir quem sou eu...


Quando sentimos dificuldades, quando a dificuldade é tão grande que nos parece que já não vale a pena continuar, é necessário que a Esperança se acenda; mas, para a Esperança se acender, precisamos de "fósforos". Neste caso, os "fósforos" são ânimo, coragem, força e optimismo na Vida. Pois é, quando sentimos dificuldades, surge, como se diz, "uma luzinha no fim do túnel"...


Nós somos o suporte de Deus.

Porque Deus prolonga-se, aactua no Mundo através de nós.

Ele precisa de nós.

E nós precisamos do seu óleo para alimentar a nossa luz.


Gabriela Caldeira de Sousa

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Carta a los Reyes

En algún lugar del mundo, no importa cuando


Estoy escribindo una carta. Pero no es una carta qualquiera. Es una carta a vosotros, lor reyes magos, como costumbrava hacer cuando era niña… e ya se han pasado tantos años!...
A veces me pregunto: you soy mayor ahora? Yo he crecido? Pero, qué significa eso de se ser mayor? Que es crecer? Yo también no sé bien y creo que vosotros también no. Pero no estoy escribindo una carta para hacer preguntas. Estas cartas son hechas para pedir cosas… pero, por qué siempre pedir? Podrá haber algún día en que se haga una carta a los Reyes para regalar?
Yo no sé que es crecer o se yo he crecido. Pero sé que he crecido en una cosa: cuando era niña yo sabia siempre lo que quería en la Navidad, pero ahora… qué puedo pedir?
Tengo tudo!
Hay algo más que todo?
Pero tener todo es qué?
Sí, quiero regalos en la Navidad. Solo voy a pedir tres regalos, como vosotros habéis hecho com el niño Jesus… Sí, porque cada Navidad es un nuevo nacimiento…
Solamente tres regalos… pero son muy caros, yo pienso…
A uno de vosotros me gustaría pedir que enseñase mi cerebro… para que yo pueda corregir lo que hago de malo, para que you pueda comprender mejor los otros, no según mi punto de vista, pero según cada persona… para que you pueda utilizar lo que me enseñan para las cosas buenas… para que yo pueda saber siempre que haver en alturas difíciles…
Al outro me gustaría pedir que me enseñase nuevos gestos a mis manos: que yo sepa abrir mis manos, no cerrarlas… que mis manos tengan fuerza para levantar los que caen… quiero que mis manos hablen cosas bonitas, poque los gestos dicen más que las palabras… quiero que mis manos dejen cosas bonitas en todo lo que hagan, mismo en las cosas más sencillas… que mis manos no sintan dolor cuando yo tuvier de las poner en el fuego por alguién…
Finalmente, al tercero de vosotros, me gustaría pedir unas compresas para el corazón… para que you pueda unir cada pedazo del corazón… para que yo pueda rellenar el vacío que tengo en el lugar donde se encontraba mi corazón… más que motivos para llorar, quiero reír y hacer reír los otros… por favor, os pido, curen mi corazón!...
Pero, para qué yo pido regalos?
Cada vez que despierto por la mañana es un regalo para mí!...
Cada vez que yo veo la cara de uno de mis colegas reíndose por alguna tontería mia, es un regalo para mí!...
Cada vez que hago una cosa bien, es un regalo para mí… y para los otros!...
Cada amigo, aúnque no sean muchos, que yo tengo, es el mejor regalo que me podrían dar!...
Porque cada persona que la Vida pone en mi camino es un regalo… mismo que esa persona solo me haga cosas malas, yo aprendo siempre algo… Y cada lección es un regalo!... mismo se las condiciones no fueran las mejores…
Porque los verdaderos regalos no son los que se sienten en las manos, pero en el corazón
Gracias! Después de todo esto, yo he comprendido lo que es crecer.
Una persona crece cada vez que corrige lo que hace de malo, que levanta los que caen y que regala más que recibe… en esse caso, os pido también una outra cosa: que me ayudéis a crecer, pues que soy muy niña!...
Si pudiera, seguiria la estrella con vosotros… pero no es necesario! Yo sigo la estrella cada vez que soy buena y hago lo cierto…
Yo quería, como he dicho en el princípio, que esta fuese una carta, no para pedir, pero para regalar…

Pues que así es, cuando lo que recibo puedo regalar a los demás…
Así termino esta carta. Hasta el año en que os pediré, no más regalos, pero que me ayudéis a mejorar los de ahora.

Feliz Navidad!


De alguién del mundo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Pequena história de Natal

O vento estava cortante lá fora. A neve caía, calma e silenciosamente, na rua que, se antes era em tons de cinzento, agora era tão ou mais branca que as nuvens. Os vidros das janelas tremem. E, sentada numa cadeira na sala de estar, a mãe acabava um lindo bordado que começara fazia pouco tempo.
Como o tempo tinha passado! E ainda se lembrava… Nunca tinha tido tempo para nada, ou, se calhar, nunca tinha dado valor ao tempo.
Concentrada, acaba de bordar um anjo no pano. Quer enchê-lo de anjinhos! Anjinhos como a sua Sofia…
E recordava as vezes em que a segunda filha mais nova, entrando a correr no quarto, lhe pedia ofegante: “Mãe, mãe, vem brincar comigo no parque!” “Agora não, querida, não posso. Mas prometo que amanhã vamos” E quantos amanhãs tinham passado! Naquele momento, se pudesse, iria mesmo brincar com ela no parque…
Como se sente cansada, pousa o pano bordado, guarda as linhas e sobre as escadas. Espreita para cada quarto dos outros filhos. Como se os visse a dormir, abeira-se perto de cada um deles de mansinho e dá-lhes um leve beijo na testa. Puxa-lhes os cobertores, para que estes não tenham frio. E, devagar, fecha-lhes as portas dos quartos. No fim, entra no quarto da Sofia.
Havia deixado tudo como sempre havia estado. Ainda lhe sugeriram que, se não tudo, se desfizesse de algumas coisas, mas resistiu energicamente.
Tocou cada brinquedo e olhou demoradamente cada fotografia. Ao passar, sem querer, foi contra a boneca preferida da filha. Apanhou-a e olhou demoradamente para ela. Era a boneca que lhe havia dado no seu último aniversário e que ela, nos seus últimos tempos de vida, carregava devotamente de um lado para o outro da casa, sem ligar ao esforço, porque, efectivamente, era uma boneca bem grande.
Naquele dia chegara a casa extraordinariamente tarde. Todos já dormiam. Então, com a boneca embrulhada numa caixa, entrara devagarinho no seu quarto. “Parabéns! Trouxe-te esta boneca” A filha, um pouco ensonada, perguntou: “Que horas são?” “Desculpa não ter estado aqui. Mas tive de trabalhar até mais tarde. Quanto mais trabalho arrumava, mais trabalho me surgia…” “Não faz mal” disse Sofia “ eu percebo que, se tivesses mesmo podido, tinhas estado comigo…” “Tomaste o medicamento para as dores de cabeça?” “Sim, mãe, tomei.” “Linda!” E, com um beijo, deitou-a de novo e saiu do quarto. É claro que ninguém imaginava que aquilo fosse mais que umas simples dores de cabeça…
E como sentia saudades dos inúmeros corações de cartão que diziam muitas vezes “Adoro-te, mamã!”…
Pousou a boneca em cima da cama e saiu do quarto. Deitou-se na sua cama e adormeceu…

Chegou o dia 23 de Dezembro. E a primeira coisa que fez foi ir ao cemitério. Pelo caminho, a sua filha mais nova, Rita, havia-a interpelado: “Mãe, posso ir contigo?” “Não, hoje não” Mais um hoje em que não ia. E só não dizia para deixar para amanhã porque tinha medo que este não existisse.
Uma vez no cemitério ficou longamente a olhar para a lápide dura e fria que assinalava o local onde se encontrava uma menina pequena, alegre, com lindos olhos azuis e grandes cabelos loiros. Parecia muito triste para tal menina.
E começou a chorar. Agora, sim, tinha tempo. Mas isso não lhe servia de nada, agora…

À noite, contra o que era costume, não foi aos quartos dos outros filhos nem se deitou na sua cama. Antes estendeu-se de bruços na cama de Sofia e voltou a chorar. Que interesse tinha o Natal, se era a primeira vez que o ia passar sem ela?
Sofia entrou, como de costume, a correr no quarto. E pediu, cansada: “Mãe, mãe, vens brincar hoje comigo no parque?”
A mãe levantou-se de um salto. Não podia, aquilo era impossível! Então, Sofia sentou-se no colo dela e abraçou-a dizendo “Não chores, senão também fico triste!” E continuou: “Vens ao parque comigo?” Então a mãe levantou-se. Não, aquilo não era um sonho. E, também, que é que essas coisas importavam agora? Tinha a filha morta à sua frente, com os seus lindo olhos azuis e cabelos loiros a dizer-lhe para não chorar e ir brincar com ela no parque. Para quê pensar muito numa altura como aquelas? Para quê pensar no que é ou não impossível, no que é ou deixa de ser? Limpou as lágrimas à manga da camisola, vestiu um casaco, pegou na filha ao colo para que esta não apanhasse frio aos pés e foi para o parque.
Uma vez lá, Sofia pediu: “Mãe, empurra-me no baloiço!” A mãe ficou a pensar: nunca tinha andado nem empurrado um baloiço. “É fácil! Quando me vires a voltar para trás, a vir de novo contra ti, só tens de dar um empurrão para a frente”. A mãe sorriu. Mas se havia coisa que mais queria era que a filha viesse mesmo contra si; e se pudesse, nunca a deixaria ir para longe…
Quando deixaram de andar de baloiço foram ambas passear de mão dada, pelas ruas, a espreitar as montras escuras cheias de coisas de Natal das lojas fechadas. E, nos vidros embaciados e gelados pela neve, Sofia fazia inúmeros desenhos… Entre eles encontrava-se os típicos corações…
Sempre andando, sem olhar a direcções, foram dar ao jardim da cidade, todo coberto de neve, como as outras ruas. Lá, as árvores erguiam para o céu os recortes delgados dos seus troncos e ramos. O lago estava tão gelado e límpido, que reflectia a luz da Lua. E nisto mãe e filha caminharam de mãos dadas pelo jardim, deixando dois pares de pegadas distintos na relva. E, ao de leve, começam a cair flocos de neve…
De súbito, a menina pára. E diz: “Tenho de ir. Estão a chamar-me.” “Quem te está a chamar?” “Os anjinhos… e a avó…” Nisto, a mãe voltou a chorar. Ajoelhou-se aos pés de Sofia e disse “Por favor, não vás! Não quero que te vás embora outra vez!” “Tenho de ir… será que não percebes? Já não pertenço mais aqui. Cada vez que choraste desde que me fui embora também me fizeste chorar a mim… por favor, deixa-me ir…” A mãe, contendo-se, limpou as lágrimas. A filha continuou “Eu estive sempre contigo. E não foi nas coisas que manténs guardadas no meu quarto, mas no teu coração… desfaz-te delas, não as quero lá… e dá a minha boneca à Rita, que sempre gostou muito dela… não quero que penses em mim como uma memória, antes que estou viva e que sou feliz onde quer que esteja… por que é que choras pela minha felicidade? E deixa de ir, pelo menos tão frequentemente, ao cemitério: achavas mesmo que eu me ia deixar por lá? Não é por aí que me vais encontrar…”
Fez-se um momento de silêncio que mais pareceu uma eternidade. E Sofia disse: “Por favor… deixa-me partir… deixa-me ser feliz…” E tornou, abraçando a mãe: “Gosto muito de ti!”

Acordou. Encontrava-se a dormir no sofá da sala. “Deve ter sido apenas um sonho…” pensou, triste. Nisto, meteu a mão no bolso. E, para sua surpresa, tirou de lá um pequeno coração de cartão com a mensagem “Adoro-te” escrita muitas vezes…

Na manhã seguinte, a mãe levou a pequena Rita consigo ao cemitério. Esta levava nos braços a boneca. “A Sofia ia querer que ficasses com ela…” havia-lhe dito a mãe. Depois da ida ao cemitério, ambas foram passear na rua. A mãe ainda olhou para as montras das lojas agora abertas e iluminadas, a ver se restara algum pequeno desenho… mas tal não acontecia.
Ambas se sentaram num dos bancos do jardim da cidade. Então a pequena Rita perguntou: “A Sofia vai voltar?” “Não, querida, nunca mais…” Rita ajeitou a boneca no seu colo. “Gostava de saber onde ela está… Tu sabes?” “Bem… creio que sim…” “Quando é que a vou voltar a ver?” “Algum dia…” “Onde?”
Nesse momento, a mãe havia acabado o último ponto do seu bordado. Estendeu-o sobre o seu colo e, apontado para as figuras presentes no seu bordado, disse: “Está lá em cima… com estes anjinhos…”…

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Carta a alguién

Sin lugar del mundo, sin tiempo


Yo vos estoy escribindo porque necesito un hogar. Yo fue expulsa de mi hogar hace poco tiempo. Pero no sé por qué.
Yo no necesito tener mucha cosa en mi hogar, ni este necesita ser grande. Solo quiero pertencer a algún lugar. Solo quiero un hogar y ser feliz.
Yo he vivido en mi hogar los momentos más felices de mi vida con mi familia. Siempre he vivido en sosego. Yo nunca he preturbado a nadie, mismo que, a veces, ellos me preturbasen. Nunca nadie ha tido razón para se aburrir conmigo.
Sin saber la razón y sin tomar cuenta, yo he sido expulsa.
Me han expulsado de mi hogar, que era tan mio como de ellos! A veces pienso que solo la mia existencia fue la razón para mi expulsión… Pero por qué? Yo pregunto de nuevo: yo he hecho alguna cosa?
He molestado a alguién? Se ha sido eso, por favor, me digan, para que yo nunca más haga lo mismo. O, por lo contrario, há sido por algo que yo no he hecho? Pienso que yo he hecho algo muy malo para ser expulsa de mi hogar con sonrisas cinicas, ojares sarcasticos y, en el caso de estos no existiren, la indiferenza. Yo he notado eso, pero hacía poco tiempo… cuál la razón de ese comportamiento? Ha sido en el día 15 del diciembre que, después de algunas ya comunes frases ríspidas que la sonrisa más falsa que yo he visto en toda mi vida ha cerrado la puerta de mi hogar. En esse momento yo no he podido, como costumbrava hacer, pensar que no era nada, que todo quedaba bien.
Y ahora? Estoy sola! No soy de algún lugar y no tengo a nadie!... No existo!...
Por favor, os imploro, me deen un hogar. Os pido, no me hagáis llorar más!

Si no tenéis hogar para mi, os pido, a lo menos, que abris una pequeña puerta en el vuestro corazón. Yo prometo no hacer nada de malo, yo me quedo en el mismo lugar, en un canto de la pared, pero abrime una puerta. Os pido, por favor!

Por favor, os imploro! Si no tenéis hogar para mí, a lo menos me dejen quedar en una pequeña parte del vuestro corazón.
Nos os pido más nada! Por favor, tende piedad de mí!...

No os olvidéis de mí!...


De: nadie

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Avó Dolores

Houve tempos em que eu falava com a avó Dolores. E a avó contava histórias tão lindas!...


A avó Dolores nascera numa aldeia; nunca me disse o seu nome, apenas se referia a ela como a Aldeia dos Girassóis. E falava do tempo em que participava nas procissões, das festas, dos conhecidos... As histórias eram sempre as mesmas mas, cada dia, pareciam diferentes, sempre novas, talvez devido à forma e entoação com que as contava.

A avó Dolores costumava dizer que o seu nome, Dolores, significa "Dor" e que a sua mãe lho havia posto por ter sofrido muito. Quando eu perguntava qual a razão do sofrimento da bisavõ, a avó limitava-se a olhar pela janela, com olhar ausente. De quando em quando pousava, no parapeito da janela, um rouxinol. A minha avó sorria para o rouxinol e eu perguntava de mim para mim o que é que o rouxinol tinha a ver com a avó Dolores.

Não demorei muito a perceber a resposta que a avó Dolores se recusava em dar. Soube-a pela minha mãe. Pelos vistos, a mãe da avó Dolores tinha morrido de parto. Perdera muito sangue e, vendo-a desfalecer, alguém perguntara o que é que ela sentia. E ela respondeu "Dor". A minha bisavó não dera nenhuma indicação ou proposta de nome para a criança e, vendo que esta morria e também devido à exclamação da mãe, os presentes optaram por dar à bebé o nome de "Dor". E assim a minha avó passou a chamar-se Dolores. E a minha avó nasceu em Março, quando chegam os rouxinóis.

A avó Dolores tinha sempre muitas saudades da sua terra. Senão, por que razão contava as suas memórias? É tão triste esquecermos aquilo que mais gostamos!...



Os tempos foram passando...



Aproximava-se o Natal. Em casa, todos estávamos felizes. Mas a avó Dolores estava triste... Tinha saudades da sua terra... Saíra de lá em menina e... nunca mais lá voltara... E como desejava voltar, pelo menos, uma última vez!...

A avó Dolores já tinha alguma idade. Estava cada vez mais velha. Mas a velhice parecia nunca haver passado por ela, sempre tão alegre mas, ao mesmo tempo, tão triste!...

A minha mãe sempre soubera que a avó Dolores queria voltar para a Aldeia dos Girassóis... Mas nunca a levara, pois não tinha conhecimento de alguma aldeia dos girassóis, ou seja, com esse nome... Mas a avó dizia - "Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...".

Pobre avó Dolores! Como eu gostava de ter podido levá-la à Aldeia dos Girassóis!...



Era chegado o dia 23 de Dezembro. Tanto eu como a minha mãe estávamos atarefadas com a ceia de Natal... Mas como iria eu dizer à Avó Dolores que ainda não ia ser daquela vez que ia passar o Natal à Aldeia dos Girassóis?

Não tive coragem. Nem passei pela porta...



E chega a noite. Eu ia para me deitar quando me lembrei que a avó dolores não tinha saído do quarto toda a tarde.

Entrei no quarto e chamei - "Avó Dolores!".

A avó parecia continuar a olhar a neve. Aproximei-me e coloquei-lhe a mão no ombro.

- Avó Dolores...

Não demorei muito a perceber ue a avó Dolores nunca mais me ia contar histórias...



No dia seguinte, 24 de Dezembro, o corpo da avó Dolores foi levado para a Aldeia dos Girassóis. Eu estava triste, pois nunca mais ia ouvir as suas histórias...

Mas, deixá-lo! O maior sonho da avó Dolores era voltar para a sua terra.

"Ainda hei-de lá ir passar o Natal!...". E foi.

Alguns dias mais tarde foi a minha vez de visitar a Aldeia dos Girassóis. A avó tinha razão! A aldeia justifica mesmo o seu nome!

Às vezes penso como poderia ter deixado a avó se lhe tivesse dito, no dia 23 de Dezembro, que não ia voltar à sua terra. Mas ainda bem que voltou!

Fui ver a nova morada da avó Dolores: tinha vista para campos cheios de flores!...



Por quantas flores eu passei no regresso a casa!...



Já se passou muito tempo...



Agora encontro-me eu, vencida pela idade, no dia 23 de Dezembro, na velha cadeira de baloiço da avó Dolores.

Estava a acabar o bordado que a havó havia deixado incompleto. Ficou tão bonito!... Já viste, avó? Um trabalho feito pelas duas, não estás orgulhosa?

Já é tarde. Passa das dez da noite: que dirias, se aqui estivesses? Estou tão cansada! Hoje vou dormir na cadeirinha de baloiço...



...Boa noite, avó Dolores!... Deixo-te na Aldeia dos Girassóis...




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